São Paulo — InkDesign News — Um implante cerebral que permite a pessoas com esclerose lateral amiotrófica (ELA) controlar um cursor de computador e utilizar a inteligência artificial para amplificar sua comunicação é o foco de um projeto inovador que combina machine learning e neurotecnologia para superar limitações motoras graves.
Contexto da pesquisa
Pesquisadores ligados à Neuralink, startup de neurotecnologia, têm desenvolvido implantes cerebrais que captam sinais neurais para permitir que pacientes com ELA possam interagir com computadores. A motivação principal é restaurar a comunicação desses pacientes, que perdem a capacidade motora progressivamente. Estudos prévios indicavam uso de rastreadores oculares para digitar, mas com restrições importantes, como a necessidade de baixa luminosidade e uso limitado a ambientes internos. O avanço agora é a combinação desse implante com tecnologias de linguagem assistida por inteligência artificial, incluindo modelos baseados em GPT-4 e serviços de clonagem vocal, como o da ElevenLabs, que reproduz a voz original do paciente para leitura dos textos digitados.
Método e resultados
O implante consiste em fios finos inseridos no cérebro que captam sinais neuronais, os quais são amplificados, filtrados e convertidos em comandos computadorizados por meio de transmissão via rádio para um MacBook. Usando um aplicativo, o paciente controla um cursor que permite digitar. A inovação está no uso associado de modelos de linguagem avançados, como o ChatGPT e Grok, que geram respostas rápidas e adaptativas para conversas em tempo real, reduzindo o esforço necessário para formular mensagens digitadas manualmente.
“My friend asked me for ideas for his girlfriend who loves horses. I chose the option that told him in my voice to get her a bouquet of carrots. What a creative and funny idea.”
(“Meu amigo me perguntou por ideias para a namorada que ama cavalos. Eu escolhi a opção que dizia, com minha voz, para ele dar um buquê de cenouras. Que ideia criativa e engraçada.”)— Smith, paciente e usuário do implante Neuralink
Além disso, a clonagem da voz permite que o texto digitado seja reproduzido de forma natural, facilitando a comunicação em vários contextos. Em entrevistas, Smith destacou que a solução melhora significativamente a velocidade e a qualidade da comunicação em ambientes com maior luminosidade, incluindo ao ar livre.
Implicações e próximos passos
Pesquisas adicionais buscaram compreender as perspectivas de pessoas com ELA quanto ao uso de assistentes de linguagem. Uma entrevista realizada por Klein em 2022 com 51 pacientes revelou opiniões diversas: alguns valorizam que cada palavra corresponda exatamente ao que gostariam de expressar, enquanto outros priorizam a fluidez e rapidez da conversa, considerando aceitável o uso de respostas geradas parcialmente por IA.
“I don’t want to wade in over my head. I leave it for experts to argue about that!”
(“Não quero me meter onde não entendo. Deixo que os especialistas debatam isso!”)— Smith, paciente e usuário do implante Neuralink
Smith também manifestou interesse em desenvolver um modelo de linguagem personalizado que aprenda com seus escritos anteriores, podendo responder com suas opiniões e estilo próprios, o que representa um avanço na personalização significativa desses sistemas. A criação de modelos assim exige colaboração multidisciplinar e investimento em pesquisas específicas para garantir a fidelidade e autonomia na comunicação assistida por IA.
Desafios éticos são centrais, incluindo a autenticidade das mensagens e a autonomia dos pacientes no processo de comunicação assistida. A acessibilidade e o custo dessas tecnologias também são barreiras a serem superadas para um uso amplo.
O projeto ilustra um avanço significativo no uso combinado de neurotecnologia e inteligência artificial para ampliar a autonomia comunicativa de pacientes com doenças neurodegenerativas, com potencial para transformar paradigmas atuais de assistência e inclusão.
Fonte: (MIT Technology Review – Artificial Intelligence)
