
Washington — InkDesign News — As crescentes preocupações com o status do dólar como ativo seguro estão marcando o cenário econômico global em 2024, com estrategistas de câmbio prevendo uma queda acentuada da moeda americana ao longo do ano. O contexto envolve inflação, juros e sinais de desaceleração do PIB, especialmente nos Estados Unidos, em meio a um ambiente de políticas tarifárias e fiscais incertas.
Panorama econômico
O dólar, moeda de reserva global, enfrenta pressões negativas desde o retorno do presidente Donald Trump à Casa Branca, que tem repercutido na confiança dos investidores através de reviravoltas nas políticas tarifárias. Apesar de uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas com a China, o impacto no câmbio é limitado. Ademais, temores de desaceleração econômica mundial — evidenciados por dados recentes como o menor crescimento do setor de serviços na China em sete meses e a desaceleração na zona do euro — ampliam a cautela internacional.
Indicadores e análises
De acordo com uma pesquisa realizada entre 30 de abril e 6 de maio com 83 estrategistas de câmbio entrevistados pela Reuters, 55% expressaram preocupação com o status do dólar, um salto em relação a cerca de um terço na pesquisa anterior. Nesta conjuntura, Steve Englander, chefe da pesquisa global de câmbio do G10 no Standard Chartered, afirmou:
“Estou muito preocupado. É como a traição da confiança de um amigo. Você pode argumentar que não importa, ou que você não estava falando sério, mas seu amigo ainda se lembra disso. É assim que o dólar está atualmente com relação à confiança internacional.”
(“I am very worried. It is like the betrayal of a friend’s trust. You might argue it doesn’t matter, or that you weren’t serious, but your friend still remembers. This is how the dollar is currently viewed regarding international trust.”)— Steve Englander, chefe da pesquisa global de câmbio do G10 no Standard Chartered
Além disso, dados apontam uma contração da economia dos EUA no primeiro trimestre, a primeira em três anos, refletindo o impacto das tarifas e a tentativa das empresas de evitarem custos elevados. Embora os futuros do Federal Reserve estejam precificando cortes nas taxas de juros até o fim de 2024, autoridades sinalizam cautela na redução das mesmas.
Impactos e previsões
Com o dólar caindo quase 9% frente a uma cesta de moedas principais desde o retorno de Trump, o euro, atualmente valorizado em cerca de US$ 1,13, deve permanecer estável no curto prazo, conforme previsões medianas de mais de 70 analistas. Francesco Pesole, estrategista cambial do ING, apontou:
“Ainda há algum espaço para o dólar se recuperar devido aos sinais do governo Trump de que está mudando de ameaças e anúncios de grandes tarifas para uma fase de negociação de acordos comerciais.”
(“There is still some room for the dollar to recover due to signals from the Trump administration that it is shifting from threats and large tariff announcements to a phase of negotiating trade deals.”)— Francesco Pesole, estrategista cambial do ING
No entanto, especialistas ressaltam que o real perigo para o dólar reside em sua trajetória fiscal de longo prazo e na potencial perda de independência do Federal Reserve, fatores que podem abalar sua reputação como ativo seguro. Brian Rose, economista sênior do UBS Global Wealth Management, observou:
“Tudo depende da independência do Fed. Se houver algum temor de que o Fed esteja perdendo sua independência, isso prejudicará seriamente o status de ativo seguro do dólar.”
(“It all depends on the Fed’s independence. If there is any fear that the Fed is losing its independence, this will seriously damage the dollar’s status as a safe-haven asset.”)— Brian Rose, economista sênior do UBS Global Wealth Management
Assim, moedas como o iene e o franco suíço, tradicionalmente consideradas refúgios seguros, têm se valorizado, subindo quase 10% no ano e com previsões de ganhos adicionais nos próximos 12 meses.
O mercado monitora atentamente os próximos passos das políticas tarifárias e fiscais dos EUA, bem como os dados econômicos e decisões do Federal Reserve, que serão determinantes para a estabilidade e a confiança no dólar como ativo global de referência.
Fonte: (CNN Brasil – Economia)