
Brasília — InkDesign News — O ex-comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, negou nesta quinta-feira (22), em depoimento à Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), ter expulsado o general Mário Fernandes de seu gabinete após suposta pressão para participar de um plano que impediria a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Contexto político
O episódio está inserido em um contexto mais amplo de investigações conduzidas pela Polícia Federal sobre atos preparados por radicais militares contra a posse do presidente Lula. Conforme relatos da PF, Mário Fernandes teria procurado Arruda dois dias antes de sua nomeação como comandante do Exército, substituindo Freire Gomes. O general Arruda, que ficou apenas 23 dias no cargo antes de ser demitido pelo presidente Lula, confirmou o encontro mas descartou ter qualquer ato de expulsão ou pressão contra Fernandes. As investigações da Procuradoria-Geral da República (PGR) apontam Fernandes como integrante de um núcleo radical ligado ao chamado “Plano Punhal Verde e Amarelo”, que continha cláusulas ameaçadoras, incluindo assassinatos de autoridades, como o presidente, vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
Reações e debates
Durante seu depoimento, o ex-comandante afirmou:
“Eu conheço a fundo o general Mario, meu amigo. Confirmo que ele esteve lá me procurando, ele perguntou se ia assumir [o comando do Exército]. Eu não o expulsei da minha sala e disse que iria dar continuidade ao que o general Freire Gomes estava fazendo. Eu não confirmo essa matéria da imprensa [sobre ter expulsado o general Mário]”
— General Júlio César de Arruda, ex-comandante do Exército
Além disso, esclareceu que o encontro foi exclusivo com Mário Fernandes e, quanto à suposta pressão para ingressar em um plano golpista, negou qualquer questionamento desse tipo:
“Não teve encontro com dois generais da reserva, o encontro foi só com o Mário Fernandes. Não me lembro se ele estava com mais alguém. Conversamos sobre diversos assuntos. Ele não me questionou [sobre nada], ele foi lá para a gente conversar”
— General Júlio César de Arruda, ex-comandante do Exército
Enquanto isso, a expectativa se concentra na continuidade das investigações e no papel do ex-tenente-coronel Mauro Cid, cuja colaboração premiada levou ao convite de Arruda e outros sete militares como testemunhas sobre a rede de insurreição militar.
Desdobramentos e desafios
A demissão de Arruda ocorreu no contexto das tensões provocadas pelos ataques que ocorreram em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, aos prédios dos Três Poderes, o que elevou o grau de vigilância sobre as Forças Armadas. As investigações prometem aprofundar o entendimento do apoio interno a movimentos radicalizados que ameaçam a democracia. A condução deste caso no STF e a colaboração premiada têm potencial de redefinir o controle institucional sobre os militares, ao passo que emergem debates sobre os limites da interferência política nas Forças Armadas. Para o governo Lula, o episódio reforça os desafios de contenção da instabilidade política e da ampliação do diálogo cívico-militar.
Este capítulo recente da relação civil-militar no Brasil marca uma inflexão significativa, sugerindo que a defesa das instituições republicanas poderá exigir mecanismos mais rigorosos de controle e responsabilização.
Fonte: (CNN Brasil – Política)