
São Paulo — InkDesign News — A crescente integração tecnológica no setor governamental americano revela um desenvolvimento controverso dentro da esfera da privacidade digital e vigilância estatal. A atual administração dos Estados Unidos tem promovido iniciativas que ameaçam a segurança dos dados pessoais dos cidadãos, somando-se a uma já complexa trajetória histórica de monitoramento governamental sob a ótica da cultura tech e geek.
Contexto e lançamento
Historicamente, o governo dos Estados Unidos tem mantido dados pessoais dos cidadãos em silos, uma medida adotada para prevenir abusos e proteger a privacidade. Tal política foi, em grande parte, uma reação à vigilância política abusiva exposta durante o escândalo do Watergate. Em resposta, o Congresso aprovou a Privacy Act de 1974, limitando o compartilhamento de informações entre agências federais. Entretanto, a administração Trump interrompeu esta prática ao emitir, em março, uma ordem executiva intitulada “Stopping Waste, Fraud, and Abuse by Eliminating Information Silos”, determinando o acesso irrestrito aos dados armazenados, como parte da formação de uma base mestre de dados administrada pelo Department of Government Efficiency (DOGE) no Departamento de Segurança Interna (DHS).
Design e especificações
O sistema DOGE integra dados coletados não só pelo DHS, mas também por outras agências como a Administração da Seguridade Social e registros eleitorais, formando um banco de dados unificado que utiliza inteligência artificial para monitorar funcionários federais em busca de sinais de deslealdade. Essa base está projetada para otimizar a detecção de fraudes e desvios, mas especialistas apontam que a real motivação é o fortalecimento da vigilância governamental. Don Bell, do Project On Government Oversight, esclarece que essas ações representam uma tentativa “de desmontar as barreiras históricas que protegem direitos civis e a privacidade.”
“A informação pessoal mantida pelo governo federal está silenciada por uma boa razão.”
(“Personal information held by the federal government is siloed for good reason.”)— John Davisson, Senior Counsel, Electronic Privacy Information Center
Repercussão e aplicações
O lançamento do banco de dados DOGE expande o alcance da vigilância inicial focada em imigrantes para um espectro mais amplo da população, gerando preocupações sobre abusos autoritários. Victoria Noble, da Electronic Frontier Foundation, alerta para o risco de controle estatal excessivo: a centralização de dados pode facilitar retaliações contra opositores políticos e minorias. Em consonância, Davisson enfatiza:
“O DOGE não está acumulando nossos dados pessoais para eficiência, detecção de fraudes ou outras razões frágeis mencionadas. O DOGE está construindo uma arma de vigilância…É sobre consolidar o poder.”
(“The DOGE isn’t hoarding our personal data for efficiency, fraud detection, or any of the other flimsy reasons it’s cited. The DOGE is building a surveillance weapon…That’s what this is about: consolidating power.”)— John Davisson, Senior Counsel, Electronic Privacy Information Center
Além disso, a prática gerou críticas e alertas sobre a erosão das salvaguardas legais, especialmente aquelas que permitem a intervenção judicial em ações executivas fora dos limites. A oposição defende o fortalecimento independente da fiscalização interna, como dos inspetores gerais, bem como maior supervisão legislativa para frear o avanço dessa vigilância.
A trajetória recente do governo destaca um padrão em que iniciativas para ampliar a coleta e o uso de dados pessoais se sobrepõem às tentativas de proteger direitos constitucionais, refletindo um desafio crescente no equilíbrio entre segurança e privacidade no ambiente digital. O futuro demanda esforços renovados para estabelecer limites claros e inovadores à soberania dos dados pessoais, especialmente diante das possibilidades abertas por ferramentas avançadas de inteligência artificial.
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Fonte: (Gizmodo – Cultura Tech & Geek)