
São Paulo — InkDesign News — O recente anúncio de uma empresa de IA ligada à Amazon, Showrunner, sobre a recriação de uma obra-prima de Orson Welles, levanta questões sobre preservação cultural e o uso da tecnologia no cinema.
Contexto e lançamento
O filme de 1942 de Orson Welles, The Magnificent Ambersons, é muitas vezes descrito como uma tragédia do cinema, marcado pela interferência da produção que alterou profundamente sua visão original. Após um teste desastroso, o estúdio cortou mais de 40 minutos da obra, deixando apenas 13 dos 73 episódios intactos. A destruição das negativas da edição original, em um ato impiedoso de economia, exacerbou ainda mais a perda. O projeto da Showrunner, que se propõe a reconstruir o filme perdido por meio de técnicas modernas, ocorre em um momento em que o fandom busca a recuperação de clássicos cinematográficos.
Design e especificações
A abordagem da Showrunner inclui a combinação de filmagens com atores ao vivo e tecnologia de IA para substituir digitalmente os rostos dos atores originais. Isso permite uma reimaginação que, embora controversa, busca respeitar a intenção visual e narrativa de Welles. O diretor Brian Rose liderará a iniciativa, utilizando anotações meticulosas de Welles, incluindo diagramas e concepções estéticas. Apesar das inovações, a empresa não obterá lucro com o projeto, pois não possui os direitos autorais do filme. Contudo, segundo CEO Edward Saatchi, o objetivo é permitir que o material resgatado exista após décadas de especulação sobre a versão original.
Repercussão e aplicações
As reações à iniciativa têm sido mistas. A utilização de IA na preservação e restauração de filmes é um tópico de debate acalorado entre cineastas e críticos, que questionam a autenticidade e o valor estético dessas recriações. A normalização do uso de tecnologias de IA em contextos criativos pode transformar a forma como entendemos a autoria e a originalidade em obras artísticas. A proposta de Rose e sua equipe não representa um esforço isolado; outros cineastas, como Joshua Grossberg, também buscam cópias perdidas de edições originais, destacando a relevância do legado de Welles. “O objetivo não é comercializar os 43 minutos, mas ver esses momentos existirem no mundo”, afirmou Saatchi.
“Orson Welles era um futurista.”
(“Orson Welles was a futurist.”)— Edward Saatchi, CEO da Showrunner
Apesar do entusiasmo por novas tecnologias, a interação de Welles com a era digital é ambígua. Seu estate deu permissão para que sua voz fosse recriada em um projeto de narrativa em áudio, o que sugere uma aceitação parcial da inovação. No entanto, Welles também criticou os impactos da tecnologia na sociedade, uma dualidade que continua relevante nos dias de hoje. Assim, a proposta de reconstruir The Magnificent Ambersons poderá não apenas revitalizar uma obra perdida, mas também instigar discussões sobre o futuro do cinema e as implicações éticas da IA.
À medida que o projeto avança, a comunidade cinematográfica observa atentamente a fusão de tradição e inovação, esperando que a tecnologia possa ajudar a resgatar o que foi perdido sem comprometer o espírito artístico da obra original.
Fonte: (Gizmodo – Cultura Tech & Geek)