
Heidelberg, Alemanha — InkDesign News — Astrônomos liderados pelo Instituto Max Planck para Astronomia anunciaram, em estudo publicado no periódico Astronomy & Astrophysics em 10 de setembro, a identificação de um objeto celeste que pode redefinir o entendimento sobre os enigmáticos “pontos vermelhos” detectados pelo Telescópio Espacial James Webb em 2022. O objeto, apelidado de “The Cliff”, sugere a existência de uma nova classe de astros, conhecida como “estrela buraco negro”.
O Contexto da Pesquisa
A misteriosa população de pontos vermelhos infravermelhos — observada a bilhões de anos-luz de distância, nos primórdios do universo — intrigou astrônomos desde sua descoberta. Inicialmente, pensava-se que seriam galáxias massivas ou buracos negros supermassivos em intenso processo de alimentação. Tais explicações, no entanto, colocavam desafios à compreensão da rápida formação desses objetos em períodos tão remotos após o Big Bang.
“Ambas as explicações desafiam os limites de nosso entendimento atual sobre evolução galáctica precoce.”
(“Both explanations push the limits of our current understanding of early galaxy evolution.”)— Fabio Pacucci, Astrofísico, Harvard & Smithsonian Center for Astrophysics
Os pontos vermelhos, conhecidos informalmente como “quebradores de universo”, aparentavam ser velhos demais para existir nos primeiros bilhões de anos do cosmos, motivando o desenvolvimento de novas hipóteses.
Resultados e Metodologia
No novo estudo, a equipe liderada pela pesquisadora Anna de Graaff analisou um ponto vermelho peculiar — cuja luz levou quase 12 bilhões de anos para chegar à Terra — identificado no levantamento RUBIES do JWST. O espectro de luz desse objeto revelou um salto abrupto de brilho, conhecido como “Balmer break”, incomum em intensidade e difícil de explicar sob modelos tradicionais de galáxias ou núcleos galácticos ativos (AGNs). A singularidade do fenômeno motivou os autores a classificá-lo como um “exagero” dos demais pontos vermelhos, recebendo o nome “The Cliff”.
A hipótese proposta é que se trate de uma “estrela buraco negro”: um buraco negro envolto por uma densa camada de gás aquecido devido ao processo intenso de alimentação, fazendo-o brilhar como uma estrela, embora sem reações nucleares.
“Estrelas buracos negros são buracos negros [em alimentação] cercados por gás denso.”
(“Black hole stars are [feeding] massive black holes that are surrounded by dense gas.”)— Anna de Graaff, Pesquisadora, Instituto Max Planck para Astronomia
Implicações e Próximos Passos
Se a hipótese dos autores se confirmar, os pontos vermelhos poderiam representar uma fase efêmera, porém decisiva, na formação dos primeiros buracos negros supermassivos do universo. Alternativamente, podem corresponder a galáxias extremamente compactas e densas em formação estelar, envoltas por poeira cósmica de alta densidade, que altera seu espectro para tons avermelhados. Ambos os cenários exigem mecanismos exóticos e desafiam modelos consolidados de evolução galáctica.
Os pesquisadores ressaltam a necessidade de novas observações em busca de assinaturas semelhantes em outros pontos vermelhos, com o objetivo de averiguar se de fato se trata de um novo tipo de objeto cósmico. A equipe do JWST planeja observar versões mais brilhantes desses pontos e monitorar possíveis mudanças ao longo do tempo.
“Ainda não sabemos como esses objetos evoluem para a população de buracos negros atualmente observada.”
(“We are not sure yet how they evolve into the black hole population that we see today.”)— Anna de Graaff
A confirmação da existência de estrelas buracos negros pode ajudar a explicar como buracos negros supermassivos cresceram tão rapidamente no início do universo — um dos principais enigmas da astrofísica moderna.
No horizonte, avanços na capacidade de detecção e na profundidade dos estudos do telescópio James Webb devem elucidar a verdadeira natureza desses pontos vermelhos, revelando se são fases transitórias de galáxias, buracos negros ocultos, ou entidades até então desconhecidas.
Fonte: (Live Science – Ciência)