
Washington — InkDesign News — A indústria do entretenimento global foi surpreendida nesta segunda-feira (5) pelo anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que afirmou aplicar uma tarifa de 100% sobre todos os filmes produzidos fora do país. A iniciativa, que integra uma série de medidas fiscais para estimular a economia nacional, deixou o setor cinematográfico em clima de incerteza pela falta de detalhes sobre a operacionalização da taxa.
Panorama econômico
O anúncio de Trump ocorre num momento de tensão nas relações comerciais internacionais, em que tarifas e políticas protecionistas têm sido adotadas para reforçar a indústria dos EUA. A medida se soma a outras imposições e ameaças tarifárias que influenciam diversos segmentos industriais globais. A administração busca reverter a perda de produção externa, reforçando a atividade interna, mas a implementação das tarifas sobre filmes, um setor altamente integrado e globalizado, representa um desafio singular, especialmente em um mercado que inclui produção e distribuição em múltiplas plataformas como cinemas e streaming.
Indicadores e análises
A declaração presidencial não especificou se as tarifas incidirão sobre produções compartilhadas entre os EUA e outras nações ou se serão aplicadas somente à produção exterior integral. Também não houve clareza se a base para cobrança será o custo de produção ou a receita das bilheterias. Enquanto as ações das gigantes do entretenimento como Netflix, Disney, Warner Bros Discovery e Comcast recuaram entre 0,7% e 2%, as operadoras de cinema Cinemark e IMAX despencaram mais de 5%, refletindo preocupação dos investidores com custos crescentes e possíveis retrações no consumo.
“Há muita incerteza, e esta última medida levanta mais perguntas do que respostas. Não parece algo que vá acontecer no curto prazo, pois todos estarão lutando para entender todo o processo. Inevitavelmente, os custos serão repassados aos consumidores.”
(“There is a lot of uncertainty, and this latest move raises more questions than answers. It doesn’t seem like something that will happen in the short term, as everyone will be struggling to understand the whole process. Inevitably, costs will be passed on to consumers.”)— Paolo Pescatore, analista da PP Foresight
O setor já enfrenta desafios como a diminuição das assinaturas de TV a cabo e custos trabalhistas elevados, fruto das greves em Hollywood em 2023. A pressão de tarifas pode desestimular a produção, conforme alerta outro analista do mercado financeiro.
“Aumentar o custo de produção de filmes pode levar os estúdios a produzir menos conteúdo. Há também o risco de tarifas retaliatórias contra conteúdo norte-americano no exterior.”
(“Increasing the cost of film production may lead studios to produce less content. There is also the risk of retaliatory tariffs on U.S. content abroad.”)— Barton Crockett, analista da Rosenblatt Securities
Impactos e previsões
A medida pode afetar o equilíbrio da produção internacional, que atualmente favorece locais com incentivos fiscais atraentes, como Reino Unido, Canadá e Austrália. Grandes franquias e premiados filmes muitas vezes têm gravações em diversos países para otimizar custos. A possível taxação pode desestimular esses investimentos e gerar retaliações de mercados importantes, como a China, que já prometeu restringir importações cinematográficas norte-americanas em resposta às tarifas recentes. Ainda assim, há dúvidas sobre a eficácia da tarifa no estímulo direto à indústria doméstica, que corre o risco de enfrentar aumento nos custos e no desinteresse do público consumidor.
Além disso, a fiscalização das tarifas pode ser dificultada pela capacidade dos conglomerados de mídia de reestruturar suas operações globalmente para evitar os impostos. Representantes do setor cinematográfico de países como Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido manifestaram preocupação e defenderam medidas para proteger as indústrias locais diante da possível adoção das tarifas norte-americanas.
Especialistas indicam que o cenário tarifário cria um ambiente de instabilidade para investimentos de médio prazo, dificultando previsões e estratégias para grandes estúdios e produtoras internacionais, que respondem por milhares de empregos diretos e indiretos no mercado global.
O próximo período deve ser marcado por debates intensos entre governos e entidades do setor para amenizar o impacto das tarifas ou encontrar alternativas para fomentar a produção interna sem comprometer o mercado mundial do entretenimento.
Fonte: (CNN Brasil – Economia)