Redes neurais transformam indústria de webcomics na Coreia do Sul

Seul — InkDesign News — A inteligência artificial está sendo utilizada para preservar e expandir o legado artístico do renomado cartunista sul-coreano Lee Hyun-se, que desenvolveu um modelo de AI capaz de replicar seu estilo característico em webcomics, com o objetivo de transcender as limitações humanas e garantir a continuidade de suas criações para as futuras gerações.
Contexto da pesquisa
Lee Hyun-se inspirou-se nos Sammi Superstars, uma das primeiras equipes profissionais de beisebol da Coreia do Sul, cuja trajetória de perseverança motivou uma população sob ditadura militar. Seu personagem rebelde, Kkachi, representa uma figura emblemática da cultura sul-coreana, presente em diversas obras assinadas por Lee, como Armageddon e Karon’s Dawn. Preocupado com a memória efêmera dos personagens após o falecimento do autor, Lee aspira garantir uma forma “de imortalidade artística” onde suas criações possam continuar vivas não apenas na lembrança dos leitores, mas também por meio de plataformas digitais.
Em parceria com a Jaedam Media, estúdio de produção de webcomics sediado em Seul, Lee desenvolveu o “modelo de IA Lee Hyun-se” a partir da adaptação do gerador Open Source Stable Diffusion, criado pela startup britânica Stability AI. O modelo foi treinado com um dataset de 5 mil volumes de seus quadrinhos, publicados ao longo de 46 anos, para recriar seu estilo artístico de forma automática.
Método e resultados
A produção da nova webcomic, uma releitura de Karon’s Dawn de 1994, envolve uma colaboração multidisciplinar: o modelo de IA utiliza prompts textuais e imagens de referência, como esboços e modelos anatômicos 3D, para gerar ilustrações iniciais que são posteriormente selecionadas e refinadas por estudantes da Universidade Sejong, onde Lee é professor. As edições incluem ajustes na pose, expressão facial e composição para obter nuances que a AI, por si só, não consegue capturar.
“Sob minha direção, um personagem pode lançar um olhar triste mesmo estando zangado, ou olhos ferozes quando feliz. É uma expressão subversiva, um detalhe que a IA luta para reproduzir.”
(“Under my direction, a character might glare with sad eyes even when they’re angry or ferocious eyes when they’re happy. It’s a subversive expression, a nuance that AI struggles to capture.”)— Lee Hyun-se, Cartunista e Professor, Universidade Sejong
O processo iterativo de geração, curadoria e finalização evidencia uma simbiose entre habilidades humanas e algoritmos de aprendizado de máquina, destacando o papel composicional do artista mesmo no contexto do uso extensivo de AI para automatizar a arte visual.
Implicações e próximos passos
Lee visa avançar para uma geração ainda mais sofisticada do modelo, um “agente de simulação Lee Hyun-se”, capaz de incorporar sua mente criativa. Esse sistema seria treinado com arquivos digitais de ensaios, entrevistas e textos dos quadrinhos, trabalhando para codificar a filosofia, personalidade e valores do artista. A longa trajetória e a quantidade volumosa de conteúdo publicados representam um desafio para o aprendizado profundo do modelo.
“Vai levar muito tempo para a IA assimilar meus múltiplos pontos de vista porque publiquei tanta coisa.”
(“It’s going to take a long time for AI to learn my myriad worldviews because I’ve published so much work.”)— Lee Hyun-se, Cartunista e Professor, Universidade Sejong
Essa iniciativa aponta para um futuro em que artistas podem automatizar tarefas operacionais de desenho, concentrando energia criativa na direção artística e na narrativa, ao mesmo tempo que enfrentam dilemas éticos relacionados à preservação da autoria e à autonomia criativa.
O projeto de Lee exemplifica o potencial da inteligência artificial na revitalização cultural e no arquivamento digital, abrindo caminhos para que memórias artísticas sejam perpetuadas além dos limites tradicionais da existência humana.
Fonte: (MIT Technology Review – Artificial Intelligence)