Projeto Ártemis pesquisa genética de pacientes com AVC
Projeto Ártemis mapeia genética de sobreviventes de AVC, abrindo portas para tratamentos personalizados e prevenção mais eficaz.
Rio de Janeiro — InkDesign News — Um estudo coordenado pelo Hospital Moinhos de Vento (HMV), com financiamento do Ministério da Saúde via Proadi-SUS, iniciou uma pesquisa ambiciosa para desvendar a influência genética no acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico, a forma mais comum da doença. O projeto Ártemis-Brasil visa traçar um mapa genético para aprimorar a prevenção e o tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS).
Contexto e objetivos
O AVC isquêmico, responsável por 85% de todos os casos, é uma condição devastadora, ocorrendo pela obstrução de uma artéria cerebral que impede a passagem de oxigênio, levando à morte celular. No Brasil, o AVC é a principal causa de morte e incapacidade, com impressionantes 85.427 óbitos registrados em 2024 e uma média de 11 mortes por hora. Diante desse cenário crítico, o projeto Ártemis-Brasil emerge como uma iniciativa crucial. Seu objetivo principal é avaliar a genética de pacientes que sofreram AVC isquêmico, bem como a de indivíduos saudáveis, buscando compreender como o risco genético influencia não apenas a probabilidade de um AVC, mas também a manifestação de comorbidades como hipertensão, dislipidemia e diabetes. A meta é desenvolver novos medicamentos e tratamentos mais precisos, abrindo caminho para a medicina de precisão no âmbito do SUS.
Metodologia e resultados
O estudo Ártemis-Brasil, que teve seu primeiro participante incluído em novembro passado, planeja recrutar mil indivíduos até o final de 2026. A amostra será composta por 500 pacientes que tiveram AVC isquêmico e 500 pessoas sem histórico da doença, permitindo uma comparação robusta das alterações genéticas associadas. Onze centros de referência em atendimento ao AVC, distribuídos por todas as regiões brasileiras e integrantes do SUS, participam ativamente da pesquisa. Ao mapear o genoma humano, os pesquisadores esperam identificar marcadores genéticos que possam não só prever o risco de AVC, mas também indicar a resposta individual a determinados tratamentos. A Dra. Ana Cláudia de Souza, neurologista do HMV e investigadora principal, ressalta a importância da diversidade genética brasileira para o estudo:
“Uma vez a gente podendo mapear melhor, analisando o que se chama hoje de genoma humano, que é esse grande livro de receitas que coordena e comanda como o nosso organismo funciona, a gente acha que vai ser muito bom para que, no futuro, possamos desenvolver novos medicamentos, ser mais precisos quando estamos indicando algum tratamento para alguém. Porque além de conseguir ver o risco de a pessoa ter um AVC, a gente também consegue ver como um organismo responde a um tratamento com base no seu perfil genético”.
— Ana Cláudia de Souza, Neurologista do Hospital Moinhos de Vento e investigadora principal do projeto Ártemis-Brasil
Este esforço integra o Programa Genomas Brasil, visando suprir a lacuna de representatividade da população latino-americana em estudos genômicos globais.
Implicações para a saúde pública
Os potenciais impactos do projeto Ártemis-Brasil na saúde pública são profundos. A implementação da medicina de precisão no SUS, com modelos de cuidado mais personalizados, pode transformar a abordagem do AVC. Além da pesquisa, a iniciativa prevê a capacitação de equipes do SUS em genética, aconselhamento genético e conceitos de medicina de precisão, fortalecendo a infraestrutura de saúde do país. A compreensão individual das características genéticas permitirá uma prevenção mais direcionada, tanto para evitar o primeiro AVC quanto para prevenir recorrências, adaptando regimes de exercícios, alimentação e tratamentos. A Dra. Ana Cláudia de Souza enfatiza a singularidade de cada indivíduo:
“Aí acaba entrando também o projeto Ártemis-Brasil, porque cada indivíduo é único na sua genética. E a gente, entendendo melhor como são essas características, consegue fazer uma prevenção muito mais precisa para essa pessoa. Pode indicar um tratamento específico, um regime de exercícios, alimentação, com base nesse perfil.”
— Ana Cláudia de Souza, Neurologista do Hospital Moinhos de Vento e investigadora principal do projeto Ártemis-Brasil
Embora o tratamento agudo do AVC tenha evoluído consideravelmente no Brasil, com a introdução de procedimentos como a trombectomia mecânica, ainda há um grande desafio na expansão dessas tecnologias para regiões com vazio assistencial, como Norte e Nordeste. O estudo Ártemis-Brasil, ao focar na prevenção personalizada, complementa esses avanços, prometendo reduzir o impacto devastador da doença na vida dos pacientes, suas famílias e no sistema de saúde.
O projeto Ártemis-Brasil representa um marco na pesquisa genômica no país, com o potencial de posicionar o Brasil como um polo de excelência na investigação de doenças cerebrovasculares. Espera-se que seus resultados não apenas reforcem o SUS com ferramentas diagnósticas e terapêuticas inovadoras, mas também abram caminho para colaborações internacionais e expansão para outros países da América Latina, consolidando um legado científico duradouro.
Fonte: (Agência Brasil – Saúde)





