
Amarna — InkDesign News — Um estudo publicado no International Journal of Osteoarchaeology revelou uma descoberta intrigante feita em Amarna, no Egito: um osso de dedo de vaca com cerca de 3.300 anos pode ter sido utilizado como apito por guardas de cemitério real durante o reinado de Akhenaton, evidenciando práticas de controle social na antiga civilização egípcia.
O Contexto da Pesquisa
Localizada aproximadamente 312 quilômetros ao sul do Cairo, Amarna – conhecida na antiguidade como Akhetaten – foi fundada em 1346 a.C. pelo faraó Akhenaton, marcando uma fase efêmera como capital do Antigo Egito. O sítio arqueológico tornou-se, nos últimos anos, objeto de investigações sobre a vida cotidiana e os mecanismos de segurança e controle existentes à época. Pesquisadores apontam que, apesar de séculos de interesse acadêmico pelo Egito faraônico, ainda são escassos os estudos relacionados ao uso de materiais ósseos como ferramentas.
Resultados e Metodologia
Em 2008, arqueólogos localizaram um osso de dedo de vaca, medindo cerca de sete centímetros, dentro de uma construção na chamada Stone Village, área associada a trabalhadores que atuavam próximo ao cemitério real. Após análise com macrophotografia e microscopia, o objeto revelou um único orifício perfurado em seu comprimento, com indícios mínimos de desgaste. Para aferir sua função, os cientistas do Amarna Project criaram uma réplica a partir de novo osso bovino e constataram que o instrumento produzia um som agudo e singular, postura coerente com a hipótese de uso como apito de sinalização e não como instrumento musical.
“Este pequeno artefato, quando contextualizado frente à arqueologia e à paisagem da fronteira leste de Amarna, serve de lembrete para os potenciais aspectos sensoriais e psicológicos do controle social em ambientes cotidianos.”
(“This small artifact, when contextualized against the archaeology and landscape of Amarna’s eastern border, is a reminder of the potential sensorial and psychological aspects of social control in an everyday setting.”)— Equipe de Pesquisa, Amarna Project
A possível utilização do apito por guardas responsáveis pela proteção de necrópoles está alinhada ao cenário de recorrentes furtos a túmulos na antiguidade. Documentos históricos e contextuais também sugerem que a estrutura onde o artefato foi achado pode ter servido como posto de guarda.
Implicações e Próximos Passos
O achado propõe novas perspectivas para a análise de objetos ósseos no Egito Antigo, incentivando investigações sobre sua aplicação em dispositivos de controle, ferramentas e utensílios do cotidiano. Os autores defendem uma reavaliação das coleções arqueológicas, buscando identificar outros exemplos de tecnologias ósseas subvalorizadas.
“Apesar de mais de 200 anos de intenso interesse acadêmico pelo Egito faraônico, pouco se sabe sobre a produção, uso e diversidade da cultura material óssea criada por esta enigmática sociedade.”
(“Despite over 200 years of intensive academic interest in Pharaonic Egypt, little focus has been given to understanding the production, use, and diversity of the osseous material culture created by this enigmatic culture.”)— Autores do estudo, Amarna Project
Ao lançar luz sobre instrumentos rudimentares de segurança, o trabalho expande as discussões acerca das práticas de controle no Egito Antigo, abrindo espaço para futuros estudos que avaliem a diversidade e as funções dos objetos ósseos em contextos funerários e cotidianos.
O estudo reforça a necessidade de um escrutínio mais atento sobre o papel de pequenas descobertas arqueológicas no entendimento das sociedades antigas, sugerindo que avanços significativos podem emergir da reinterpretação de evidências antes consideradas secundárias.
Fonte: (Popular Science – Ciência)