Pesquisadores desenvolvem fármaco que amplia vida na fibrose cística

Iowa City — InkDesign News — Três pesquisadores receberam o prestigioso Prêmio Lasker-DeBakey de Pesquisa Clínica em 2024, no valor de US$ 250 mil, por suas contribuições na criação de uma terapia revolucionária para a fibrose cística (FC), doença genética que afeta principalmente pulmões e sistema digestivo. Os contemplados foram o Dr. Michael Welsh, da Universidade de Iowa, Paul Negulescu, da Vertex Therapeutics, e Jesús (Tito) González, da Integro Theranostics, em reconhecimento pelo desenvolvimento do medicamento Trikafta, aprovado em 2019, que prolonga por décadas a expectativa de vida de pacientes com FC.
O Contexto da Pesquisa
A fibrose cística é resultante de mutações no gene CFTR, responsável pelo transporte de íons através das membranas celulares, regulando assim o fluxo de água e, consequentemente, a viscosidade do muco nos órgãos. Nas primeiras décadas após a identificação da doença, nos anos 1930, a maioria dos pacientes morria ainda na infância — cenário que persistiu por décadas. Até mesmo na década de 2010, cerca de metade das pessoas com FC falecia antes dos 40 anos. A partir de avanços em biologia molecular e farmacologia, tornou-se possível abordar a causa molecular do distúrbio.
Resultados e Metodologia
Os estudos laboratoriais conduzidos por Welsh nas décadas de 1980 e 1990 foram essenciais para desvendar o defeito mais comum, denominado delta-f508, responsável por impedir a chegada das proteínas CFTR à superfície celular e, assim, bloquear o fluxo de íons. Utilizando células de vias aéreas de portadores da doença, a equipe verificou que baixas temperaturas durante o cultivo celular permitiam restaurar parcialmente a função desse canal iônico.
Simultaneamente, González co-inventou um sistema óptico de rastreamento do fluxo de íons em tempo real, sistematizando ensaios de milhares de moléculas diariamente para testar medicamentos candidatos — importante avanço frente às técnicas clássicas de eletrofisiologia, de baixa produtividade. A biometria dessa triagem facilitou o trabalho liderado por Negulescu, que buscou “potencializadores” (que aumentam o fluxo iônico) e “corretores” (que facilitam o posicionamento correto do canal na membrana). Essa metodologia culminou no lançamento de três gerações de fármacos, culminando no Trikafta.
“É muito gratificante. É raro, em pesquisa médica, ver algo chegar ao paciente e ter tamanho efeito dramático.”
(“It’s super gratifying. It’s very rare to actually have something [in medical research] that goes all the way to patients and is made widely available, and to have such a dramatic effect.”)— Jesús (Tito) González, Integro Theranostics
Atualmente, a expectativa mediana de sobrevida de pacientes nascidos entre 2020 e 2024, com acesso a Trikafta, alcança 65 anos.
Implicações e Próximos Passos
A aprovação do Trikafta revolucionou o manejo da fibrose cística, reduzindo drasticamente transplantes pulmonares, internações por infecção e melhorando a qualidade de vida global dos pacientes. Segundo a Fundação Lasker, o trio de pesquisadores “oferece às pessoas com fibrose cística a chance de prosperar e planejar futuros vibrantes”.
“O prêmio Lasker também evoca grandes memórias e aquece o coração ao pensar em todos com quem trabalhei, e todo o tempo e esforço envolvidos. Só espero que as pessoas compreendam a dificuldade de chegar tão longe.”
(“The Lasker Award also brings back a lot of great memories and it really warms your heart when you think of all the people you’ve worked with, and all the time and effort. I just hope people understand how difficult it is to go this far.”)— Jesús (Tito) González, Integro Theranostics
Especialistas consideram que a administração ainda mais precoce de moduladores como o Trikafta pode ampliar ainda mais as projeções de saúde e longevidade em indivíduos com a doença. Além disso, a metodologia e os avanços laboratoriais empregados podem servir de modelo para o desenvolvimento futuro de terapias para outras doenças genéticas.
Novos desdobramentos científicos e regulatórios são esperados, com mais estudos clínicos para expandir o benefício a pacientes com variantes raras do gene CFTR, além do monitoramento longitudinal dos resultados em saúde pública.
Fonte: (Live Science – Ciência)