Vancouver — InkDesign News — Pesquisadores da Universidade de British Columbia (UBC), no Canadá, alcançaram em 2023 um feito inédito: transplantaram um rim humano de doador cuja tipagem sanguínea foi convertida artificialmente de tipo A para o universal tipo O. O trabalho, publicado na revista Nature Biomedical Engineering, pode abrir caminho para um suprimento universal de órgãos e sangue.
O Contexto da Pesquisa
O principal desafio histórico dos transplantes de órgãos reside na rejeição mediada pelo sistema imunológico, que trata órgãos incompatíveis como ameaças, causando taxas de rejeição entre 15% a 20% em transplantes renais. Isso é agravado pela necessidade de compatibilidade entre os tipos sanguíneos de doadores e receptores, um critério que limita a disponibilidade de órgãos. Pacientes do tipo O, por conta da universalidade de seu sangue, compõem mais da metade das listas de espera por um rim.
Resultados e Metodologia
Após uma década de pesquisas, o grupo da UBC desenvolveu enzimas de laboratório capazes de remover os antígenos que definem o sangue tipo A, convertendo órgãos desse tipo em equivalentes ao tipo O. Essa transformação já havia sido validada com rins e pulmões fora do corpo em 2022. O estudo testou o procedimento em um paciente com perda total de função cerebral, cujo rim, após a conversão enzimática, permaneceu funcional por dois dias sem sinais de rejeição hiperaguda — reação normalmente devastadora e imediata que pode inutilizar o órgão em minutos.
“Essas enzimas são altamente ativas, altamente seletivas e funcionam em concentrações muito baixas. Isso tornou o conceito todo viável.”
(“These enzymes are highly active, highly selective, and work at very low concentrations. That made the whole concept feasible.”)— Jayachandran Kizhakkedathu, Coautor do estudo, Universidade de British Columbia
No terceiro dia, alguns marcadores do sangue tipo A reapareceram, causando uma reação leve. Entretanto, o dano ao órgão foi significativamente menor em comparação com incompatibilidades tradicionais. A equipe observou também indícios de que o corpo começava a aceitar gradativamente o órgão alterado.
“Esta é a primeira vez que presenciamos esse fenômeno em um modelo humano. Isso nos dá uma visão inestimável de como melhorar os resultados a longo prazo.”
(“This is the first time we’ve seen this play out in a human model. It gives us invaluable insight into how to improve long-term outcomes.”)— Peter Withers, Pesquisador, Universidade de British Columbia
Implicações e Próximos Passos
O avanço poderá reduzir drasticamente as filas de espera para transplantes, oferecendo maior flexibilidade na distribuição de órgãos. O grupo planeja agora testes clínicos e o aprimoramento das enzimas para estender a técnica a doações sanguíneas e a outros órgãos, ampliando ainda mais o potencial do método. Os próximos desdobramentos devem incluir parcerias internacionais e avaliação rigorosa dos efeitos de longo prazo em pacientes vivos.
A descoberta marca um ponto de virada na ciência dos transplantes e modelos de compatibilidade sanguínea. Especialistas avaliam que, se confirmada em testes mais amplos e prolongados, a conversão sanguínea enzimática poderá redefinir práticas clínicas em medicina regenerativa e transplantes ao redor do mundo.
Fonte: (Popular Science – Ciência)





