
Brisbane — InkDesign News — Um estudo inovador conduzido na Universidade de Queensland revelou uma faceta até então desconhecida e perigosa do veneno das mambas, algumas das serpentes mais letais do mundo. Publicada na revista Toxins, a pesquisa detalha como o veneno da mamba-negra, que ameaça milhares de vidas anualmente na África Subsaariana, possui ação neurotóxica dupla, desafiando a eficácia dos antivenenos existentes.
O Contexto da Pesquisa
Historicamente, o tratamento de mordidas de mamba focava no combate à paralisia flácida, principal efeito conhecido do veneno dessas serpentes. No entanto, quadros clínicos de alguns pacientes, que inicialmente respondiam bem ao antiveneno, intrigavam os médicos ao apresentarem posteriormente espasmos musculares dolorosos e incontroláveis. Em busca de respostas, a equipe liderada pelo Professor Bryan Fry, da Escola de Meio Ambiente da Universidade de Queensland, aprofundou a análise dos venenos das quatro espécies de mambas africanas.
Resultados e Metodologia
Utilizando experimentos laboratoriais em colaboração com o Monash Venom Group, a pesquisa identificou que três das quatro espécies — a mamba-negra, a mamba-verde-ocidental e a mamba-de-jameson — desencadeiam não apenas paralisia flácida por ação pós-sináptica, mas também, após aplicação do antiveneno, paralisia espástica devido à toxicidade pré-sináptica.
“The Black Mamba, Western Green Mamba and Jamesons Mamba snakes aren’t just using one form of chemical weapon, they’re launching a coordinated attack at 2 different points in the nervous system,”
(“A mamba-negra, a mamba-verde-ocidental e a mamba-de-jameson não utilizam apenas um tipo de arma química; elas realizam um ataque coordenado em dois pontos distintos do sistema nervoso.”)— Professor Bryan Fry, Escola de Meio Ambiente, Universidade de Queensland
A pesquisa revelou ainda variações importantes na toxicidade do veneno em populações da mamba-negra do Quênia e da África do Sul, tornando o desenvolvimento de antivenenos universais ainda mais complexo.
“What we were not expecting to find was the antivenom unmasking the other half of the venom effects on presynaptic receptors.”
(“Não esperávamos descobrir que o antiveneno revelaria o outro lado dos efeitos do veneno nos receptores pré-sinápticos.”)— Lee Jones, Doutorando, Universidade de Queensland
Implicações e Próximos Passos
Os autores destacam que cerca de 30.000 mortes são atribuídas às mordidas de mamba anualmente na África Subsaariana. O estudo aponta para a necessidade urgente de criação de antivenenos especializados, capazes de neutralizar ambas as fases de neurotoxicidade. Esses achados têm o potencial de reorientar protocolos médicos e influenciar a produção mundial de antivenenos.
Professor Fry enfatizou o impacto translacional do estudo: “By identifying the limitations of current antivenoms and understanding the full range of venom activity, we can directly inform evidence-based snakebite care.” (“Ao identificar as limitações dos antivenenos atuais e compreender todo o alcance da atividade do veneno, podemos informar diretamente uma assistência baseada em evidências para mordidas de serpente.”)
Nos próximos anos, espera-se que novas formulações de antiveneno possam salvar milhares de vidas, especialmente após a integração das descobertas às diretrizes clínicas e ao desenvolvimento de contra-medidas personalizadas para diferentes regiões e espécies de mamba. O avanço representa um divisor de águas para pacientes e profissionais das áreas médica e científica.
Fonte: ScienceDaily – Ciência