
Bolzano — InkDesign News —
Em setembro de 1991, um evento incomum marcou a arqueologia mundial: caminhantes descobriram um corpo parcialmente exposto no gelo sobre o vale de Ötztal, nos Alpes. Após análises, arqueólogos concluíram que não se tratava de um turista recente, mas sim de um homem da Idade do Cobre, datado por volta de 3300 a.C. Conhecido como Ötzi, o Homem do Gelo, o achado revelou detalhes raros sobre a vida cotidiana e morte violenta no período pré-histórico europeu.
O Contexto da Pesquisa
A descoberta, feita próxima à fronteira entre Itália e Áustria, levantou questões sobre os modos de vida, saúde, violência e tecnologia dos povos que habitaram a Europa durante a Idade do Cobre. Até então, poucas eram as evidências físicas preservadas desse período, em especial restos humanos tão completos. “A preservação da múmia de Ötzi proporcionou à ciência um vislumbre sem precedentes sobre hábitos alimentares, vestuário e práticas médicas há mais de 5 mil anos”, destacou Andreas Putzer, arqueólogo do Museu de Arqueologia do Tirol do Sul.
Resultados e Metodologia
A remoção do corpo envolveu esforços de autoridades locais e arqueólogos, que enfrentaram dias de desafios logísticos para extrair e preservar a múmia. Exames detalhados demonstraram, posteriormente, que Ötzi morreu aos cerca de 45 anos vítima de um ferimento por flecha, revelando vestígios de violência. Análises isotópicas e genéticas de tecidos e objetos encontrados com ele, como ferramentas de cobre, vestimentas de couro e restos vegetais, permitiram reconstruir padrões alimentares, rotinas de deslocamento e até indícios de tratamentos naturais:
“Estudos de seu estômago mostraram uma última refeição rica em gordura animal, provavelmente para enfrentar o frio intenso dos Alpes.”
(“Studies of his stomach showed a final meal rich in animal fat, likely consumed to endure the severe Alpine cold.”)— Albert Zink, Diretor, Instituto EURAC de Estudos de Múmias, Bolzano
Os exames também identificaram tatuagens, artefatos de sílex e sinais de doenças crônicas, sugerindo o uso de práticas terapêuticas rudimentares.
Implicações e Próximos Passos
Além de revolucionar a compreensão da vida no Neolítico, o caso Ötzi trouxe novas linhas de investigação sobre migrações, saúde e relações sociais na pré-história europeia. Pesquisadores avaliam que a preservação quase completa permitiu avançar consideravelmente em áreas como paleopatologia e biotecnologia aplicada.
“A análise genética abre possibilidades para entender resistências a doenças e padrões de deslocamento de populações antigas.”
(“Genetic analysis paves the way to understanding disease resistance and ancient population movements.”)— Johanna Huber, Bioarqueóloga, Universidade de Innsbruck
Futuros estudos pretendem reconstruir o último dia de vida de Ötzi de forma cada vez mais precisa, ampliando o conhecimento sobre as interações humanas e ambientais naquele contexto.
O aprofundamento dessas pesquisas pode desvelar não apenas detalhes sobre a morte de Ötzi, mas também inspirar novas metodologias para análise de restos arqueológicos em regiões de difícil acesso, enriquecendo o debate sobre os limites e as potencialidades do estudo da antiguidade humana.
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Fonte: (Live Science – Ciência)