
Lund, Suécia — InkDesign News — Arqueólogos da Universidade de Lund desvendaram detalhes inéditos sobre a artilharia medieval a partir dos destroços do navio real dinamarquês-norueguês, Gribshunden, afundado em 1495 na costa de Ronneby, Suécia. O estudo, publicado recentemente, revela como embarcações e armamentos marítimos permitiram o início do domínio e colonização europeia global.
O Contexto da Pesquisa
A pesquisa insere-se no esforço internacional de compreender as tecnologias militares e navais que impulsionaram as navegações europeias na virada dos séculos XV e XVI. Gribshunden representa o navio medieval mais bem preservado da Era das Grandes Navegações, oferecendo uma rara referência arqueológica para os tipos de embarcações utilizados também por exploradores como Cristóvão Colombo e Vasco da Gama. A investigação liderada por Brendan Foley, da Universidade de Lund, contou ainda com a colaboração de Martin Hansson e do especialista britânico Kay Douglas Smith.
“Diving on this late medieval royal shipwreck is of course exciting. However, the greatest satisfaction is when we can actually put the pieces of the puzzle together later on; combining Martin’s castle expertise with Kay’s deep understanding of artillery.”
(“Mergulhar neste naufrágio real do final da Idade Média é, claro, empolgante. No entanto, a maior satisfação é quando conseguimos realmente juntar as peças do quebra-cabeça mais tarde; combinando a expertise de Martin em castelos com a profunda compreensão de artilharia de Kay.”)— Brendan Foley, Arqueólogo Marinho, Universidade de Lund
Resultados e Metodologia
Foram identificados e digitalizados 11 dos mais de 50 canhões originalmente presentes a bordo, alguns deles encontrados deformados, provavelmente devido à explosão que afundou o navio. A equipe utilizou modelagem 3D a partir dos artefatos recuperados para reconstituir as armas. Esses canhões, de pequeno calibre, empregavam projéteis de chumbo com núcleo de ferro, projetados para uso anti-pessoal em combates aproximados, seguidos de abordagens e captura do navio inimigo. Documentos históricos corroboram que o Gribshunden serviu à coroa dinamarquesa por uma década, destacando-se tanto pelo poderio militar quanto por sua função diplomática e administrativa.
“Gribshunden probably absorbed about 8% of the Danish national budget in 1485.”
(“Gribshunden provavelmente absorveu cerca de 8% do orçamento nacional dinamarquês em 1485.”)— Relatório dos Pesquisadores de Lund
O naufrágio ocorreu durante uma viagem política de Hans, rei da Dinamarca e Noruega, com um incêndio seguido de explosão enquanto ancorado em Ronneby. O evento ocorre num momento-chave, quando avanços náuticos e acordos papais moldavam os rumos da exploração marítima europeia.
Implicações e Próximos Passos
A descoberta reforça a importância das inovações militares e navais para o início do expansionismo europeu pós-1492, mas também ressalta peculiaridades do poder dinamarquês, que, diferentemente de Espanha e Portugal, não investiu em explorações atlânticas ou colonização americana. O foco de Hans no Báltico, aliado a restrições e tratados papais, contribuiu para tal direção. Os achados ampliam a compreensão sobre o papel de navios de guerra caravelados como plataformas de poder multifuncionais — além da guerra, desempenhando funções diplomáticas e administrativas.
O acervo está agora exposto no Blekinge Museum, com parte dos artefatos em exibições itinerantes, e planos em curso para um museu dedicado ao Gribshunden em Ronneby. Especialistas veem na preservação e estudo desses artefatos oportunidades para revisitar a história da expansão marítima europeia, com impactos diretos sobre a arqueologia, tecnologia naval e estudos de poder global.
À medida que novas escavações e modelagens digitais avançam, espera-se que o conhecimento sobre a transição entre embarcações medievais e da Era das Navegações seja aprofundado, contribuindo para debates sobre tecnologia, política e cultura marítima europeia.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)