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Pittsburgh — InkDesign News — Uma investigação histórica revela como o entusiasmo científico pelos elementos radioativos transformou produtos farmacêuticos e de consumo no início do século XX nos Estados Unidos. O estudo, publicado por pesquisadores da Friedrich-Alexander Universität Erlangen-Nürnberg, examina o apogeu e queda do Radithor, uma água radioativa vendida como panaceia entre 1924 e 1930, demonstrando os riscos da interação entre ciência e mercado.
O Contexto da Pesquisa
A descoberta do rádio por Marie e Pierre Curie, em 1898, inaugurou uma era de fascinação global pela radioatividade. O elemento rapidamente tornou-se símbolo de inovação, sendo incorporado em tratamentos médicos, cosméticos e inúmeros produtos cotidianos. Nos Estados Unidos, o apoio da American Medical Association, em 1914, à primeira terapia de água radioativa impulsionou a indústria. “Radium ‘was mainstream, and it became mainstream because the radium industry wanted this to happen’”
(“O rádio ‘tornou-se mainstream, e tornou-se mainstream porque a indústria do rádio queria que isso acontecesse’”)
— Maria Rentetzi, Historiadora da Ciência, Friedrich-Alexander Universität Erlangen-Nürnberg
O processo foi alimentado tanto pela limitada compreensão científica da época quanto por estratégias agressivas de marketing, culminando em produtos populares como o Radithor.
Resultados e Metodologia
A pesquisa recupera o caso emblemático de Eben Byers, empresário que, após ingerir cerca de 2.800 doses de Radithor — uma água infundida com isótopos radioativos — morreu em 1932 vítima de envenenamento agudo por radiação. Testes recentes demonstraram que frascos vazios do produto ainda são considerados perigosos devido à radioatividade residual. A análise histórica mostra que, entre 1924 e 1930, cerca de 400.000 frascos de Radithor foram comercializados.
“A new American radium industry… had a product with promise and a marketing plan that outpaced the scientific process”
(“Uma nova indústria americana do rádio… tinha um produto promissor e um plano de marketing que superava o processo científico”)— Maria Rentetzi, Historiadora da Ciência, Friedrich-Alexander Universität Erlangen-Nürnberg
Documentos originais, relatórios oficiais e entrevistas fundamentam o trabalho, evidenciando como a ausência de regulações eficazes permitiu o florescimento de terapias perigosas.
Implicações e Próximos Passos
A tragédia de Byers e a intoxicação de dezenas de operárias conhecidas como “radium girls” precipitaram mudanças regulatórias e a queda do entusiasmo cego pelo rádio. As consequências éticas e sanitárias deste período motivaram a adoção de políticas mais restritivas para produtos radioativos, especialmente a partir do final da década de 1930. Atualmente, o rádio é utilizado de forma controlada, por exemplo, em tratamentos de certos tipos de câncer, reconhecido pela FDA somente após décadas de estudos rigorosos.
A experiência americana demonstra que a fusão precipitada de ciência e mercado pode gerar consequências graves, reforçando a importância da regulação e da revisão crítica de novas tecnologias. O debate suscitado por Rentetzi contribui para prevenir que fenômenos semelhantes voltem a ocorrer em áreas emergentes como biotecnologia e inteligência artificial.
Fonte: (Popular Science – Ciência)