
Berkeley — InkDesign News — Um novo estudo publicado na revista Science Advances revela que os glaciares de montanha do Parque Nacional de Yosemite, nos Estados Unidos, devem desaparecer em até 75 anos, tornando esta a primeira vez, desde a chegada dos humanos à América do Norte, em que a serra da Sierra Nevada ficará totalmente livre de gelo.
O Contexto da Pesquisa
Desde a última Era do Gelo, há cerca de 30 mil anos, os glaciares da Sierra Nevada nunca desapareceram por completo. Estudos anteriores sugeriam que, durante o início do Holoceno — o período quente após a Era do Gelo —, esses glaciares poderiam ter encolhido significativamente ou até desaparecido, mas evidências sedimentares eram inconclusivas. O atual trabalho, coordenado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, Berkeley, utilizou técnicas geoquímicas de ponta para esclarecer definitivamente essa questão histórica.
Resultados e Metodologia
Os cientistas analisaram amostras de rochas e blocos recentemente expostos, colhidos junto aos glaciares Conness, Maclure, Lyell e Palisade, em Yosemite e arredores. O foco esteve na identificação de isótopos de carbono e do elemento berílio, ambos gerados por raios cósmicos quando as rochas estão expostas ao sol. A presença desses elementos indica o tempo que a rocha esteve exposta, funcionando como um “relógio” geológico.
O estudo determinou que, embora os glaciares tenham oscilado em tamanho ao longo dos últimos 11.700 anos — período conhecido como Holoceno —, as rochas subjacentes estiveram expostas por menos de 100 a alguns milhares de anos, apontando que o gelo jamais desapareceu completamente. Apenas a face leste do glaciar Lyell pode ter sido menor durante o início do Holoceno do que atualmente.
“Anthropogenic climate change is therefore likely creating a no-analog scenario in the western United States within the current interglacial.”
(“A mudança climática de origem antrópica está portanto provavelmente criando um cenário sem precedentes no oeste dos Estados Unidos dentro do atual interglacial.”)— Equipe de pesquisadores, Science Advances
A equipe também destaca que o aquecimento recente do verão californiano, de 2°C acima dos níveis pré-industriais, é igual ou superior ao vivido há 11 mil anos.
Implicações e Próximos Passos
O desaparecimento iminente dos glaciares é considerado um evento inédito na presença humana na América do Norte. Mesmo evidências que sugerem presença humana há até 30 mil anos na região apontam que sempre houve gelo nas montanhas da Sierra Nevada nesse período. Os dados projetam que a geração atual poderá testemunhar um fenômeno sem paralelos históricos ou pré-históricos.
“[Our] reconstructed glacial history indicates that a future glacier-free Sierra Nevada is unprecedented in human history.”
(“Nossa reconstrução da história glacial indica que uma Sierra Nevada livre de glaciares, no futuro, é algo sem precedentes na história humana.”)— Autores do estudo, Science Advances
A descoberta reforça a urgência de reavaliar políticas de mitigação das mudanças climáticas, bem como de monitoramento contínuo dos glaciares remanescentes. O avanço do estudo pode incentivar novas pesquisas sobre dinâmicas da criosfera e orientar estratégias de preservação ambiental.
Analistas preveem que as próximas décadas serão decisivas para o entendimento global dos impactos das mudanças climáticas — e para as tentativas de frear ou adaptar-se à perda desses ícones naturais.
Fonte: (Live Science – Ciência)