
Zurique — InkDesign News — Cientistas da ETH Zurique publicaram, em junho de 2024, um estudo na revista Science Advances que confirma: suspirar profundamente ajuda a “resetar” as camadas do fluido pulmonar, fundamental para a saúde respiratória. Os experimentos simulam respirações normais e profundas, produzindo evidências físicas sobre o impacto dos suspiros em nossos pulmões.
O Contexto da Pesquisa
O funcionamento do pulmão depende de surfactantes pulmonares, um grupo de fosfolipídeos e proteínas que recobrem os alvéolos e facilitam a expansão pulmonar ao reduzir a tensão superficial. A deficiência deste fluido é frequente em bebês prematuros, contribuindo para o colapso dos alvéolos e casos graves de insuficiência respiratória. Desde a década de 1980, a reposição desses surfactantes extraídos de animais se tornou parte do tratamento desses recém-nascidos. “Este método funciona muito bem em recém-nascidos. O fluido recobre toda a superfície, tornando os pulmões mais deformáveis, ou, em termos mais técnicos, mais complacentes.”
(“This works very well in newborns. The fluid coats the entire surface, making the lungs more deformable, or with a more technical word, compliant.”)
— Jan Vermant, pesquisador, ETH Zurique
No contexto da pandemia de COVID-19, no entanto, cerca de 3.000 adultos desenvolveram síndrome do desconforto respiratório agudo e não responderam ao mesmo tratamento. “Isso mostra que não se trata apenas de reduzir a tensão superficial”, destaca Vermant, sugerindo que o comportamento mecânico do fluido também influencia o funcionamento pulmonar.
Resultados e Metodologia
O grupo de Vermant e colaboradores internacionais desenvolveu simulações laboratoriais de respirações normais e profundas, mensurando as tensões na superfície dos surfactantes pulmonares. O estudo revelou que, após inspirações profundas — equivalentes a suspiros —, a tensão superficial diminui consideravelmente, sugerindo um mecanismo físico que explica o alívio após o ato de suspirar. O resultado apoia uma nova visão dos surfactantes, não como uma só camada, mas múltiplas camadas sobrepostas, cada uma com propriedades distintas.
“Diretamente na interface com o ar, há uma camada superficial um pouco mais rígida. Abaixo dela, existem diversas outras camadas, que precisam ser mais macias.”
(“Directly at the boundary with the air, there is a slightly stiffer surface layer. Underneath, there are several layers that should be softer than the surface layer.”)— Maria Novaes-Silva, coautora do estudo
O desequilíbrio entre essas camadas pode ser corrigido por um suspiro, forçando o estiramento e compressão dos surfactantes e restaurando o equilíbrio funcional do pulmão.
Implicações e Próximos Passos
As descobertas têm potencial para revolucionar tratamentos de falência pulmonar em adultos e influenciar o desenvolvimento de surfactantes artificiais, especialmente ao isolar os componentes críticos de cada camada interfacial. “Este é um estado fora dos limites do equilíbrio termodinâmico que só pode ser mantido por trabalho mecânico”, explica Vermant, acrescentando que a complacência pulmonar tende a diminuir com o tempo, efeito acentuado pela respiração curta e superficial.
Os pesquisadores defendem que, até a criação de terapias inovadoras, praticar respirações profundas é uma medida acessível e benéfica para a saúde pulmonar.
À medida que o entendimento sobre a dinâmica dos surfactantes pulmonares evolui, abrem-se caminhos para novas abordagens terapêuticas no tratamento de doenças respiratórias graves, com potenciais benefícios clínicos além dos já estabelecidos para neonatos.
Fonte: (Popular Science – Ciência)