
Madri — InkDesign News — Cientistas espanhóis identificaram que pacientes em tratamento para condições de saúde mental que também apresentam problemas de pele podem enfrentar maior risco de desfechos severos, como depressão e pensamentos suicidas, segundo pesquisa apresentada no Congresso Europeu de Neuropsicofarmacologia (ECNP) em Amsterdã.
O Contexto da Pesquisa
O estudo se insere em um campo em expansão que busca compreender as interações entre doenças dermatológicas e transtornos psiquiátricos. Sabe-se que até 60% das pessoas com doenças de pele manifestam sintomas psiquiátricos, mas a investigação liderada pelo Dr. Joaquín Galvañ, do Instituto de Pesquisa em Saúde Gregorio Marañón, Madri, questionou se o caminho inverso também ocorreria: se pessoas com transtornos mentais estão predispostas a alterações na pele que poderiam ser indicadores precoces de maior vulnerabilidade.
Resultados e Metodologia
A equipe avaliou 481 indivíduos em seu primeiro episódio de psicose — manifestação inicial de sintomas como delírios e alucinações. Dos pacientes estudados, 14,5% apresentavam sintomas dermatológicos como coceira, erupções ou sensibilidade à luz, sendo mais prevalente em mulheres (24%) do que em homens (9,8%). Todos receberam tratamento antipsicótico por quatro semanas, período após o qual indicadores de saúde mental foram avaliados em detalhe.
Segundo o Dr. Galvañ:
“Após 4 semanas de acompanhamento, pacientes com primeiro episódio de psicose e condições de pele experimentaram níveis mais altos de depressão e risco de suicídio. Observamos que apenas 7% dos pacientes sem condições iniciais de pele tiveram pensamentos ou tentativas suicidas, enquanto cerca de 25% dos pacientes com condições iniciais de pele apresentaram pensamentos ou tentativas suicidas. Condições iniciais de pele também estão relacionadas a maior depressão e menor bem-estar no acompanhamento.”
(“After 4 weeks of follow-up, patients with a first episode of psychosis presenting with skin conditions experienced higher levels of depression and risk of suicide. We found that just 7% of the patients without the initial skin conditions had suicidal thoughts or attempts, in contrast, around 25% of the patients with initial skin conditions had suicidal thoughts or attempts. Initial skin conditions are also linked to greater depression and poorer well-being at follow-up.”)— Dr. Joaquín Galvañ, Instituto de Pesquisa em Saúde Gregorio Marañón
Os cientistas acreditam que a relação pode ter origem nas vias de desenvolvimento embrionário, já que pele e cérebro derivam do mesmo folheto embrionário, o ectoderma.
Implicações e Próximos Passos
A descoberta pode criar novos parâmetros no acompanhamento psiquiátrico, ao possibilitar que sintomas dermatológicos atuem como sinal de alerta para riscos elevados, semelhante ao que exames laboratoriais fazem em outras áreas da medicina. O Dr. Galvañ ressalta a necessidade de novas investigações para validar se a associação se estende a outros transtornos, como transtorno bipolar, depressão e ansiedade:
“Nossas descobertas sugerem que sintomas dermatológicos podem representar um marcador de gravidade da doença e piores desfechos no curto prazo nas fases iniciais da psicose, identificando um subgrupo de pacientes com pior prognóstico clínico, que podem se beneficiar de intervenções precoces personalizadas. A razão para a conexão ainda é incerta, mas nossa hipótese de trabalho é que pode haver origem comum e vias inflamatórias compartilhadas entre pele e sistema nervoso; mas isso precisa ser confirmado. Pelo que sabemos, este é o primeiro estudo a mostrar esse vínculo em pacientes com psicose, então precisamos de estudos de seguimento para confirmar esses achados. Também precisamos entender se essa relação se aplica a uma variedade de outros transtornos psiquiátricos, como transtorno bipolar, TDAH, ansiedade ou depressão.”
(“Our findings suggest that dermatological symptoms may represent a marker of illness severity and poor short-term outcomes in the early stages of psychosis, potentially identifying a subgroup of patients with a poorer clinical prognosis who may benefit from early tailored interventions. The reason for the connection is still unclear, but our working hypothesis is that this may be due to the skin and neurological systems having common developmental origins and inflammatory pathways; but this needs to be confirmed. As far as we know this is the first study to show this link in patients with psychosis, so we need follow-up studies to confirm the finding. We also need to understand if this link applies also to a range of other psychiatric conditions, such as bipolar disorder, ADHD, anxiety or depression.”)— Dr. Joaquín Galvañ, Instituto de Pesquisa em Saúde Gregorio Marañón
Professor Eric Ruhe, especialista em depressão difícil de tratar na Universidade Radboud, Países Baixos, recomenda cautela e validação adicional em diferentes populações, ressaltando a relevância teórica do vínculo entre pele e cérebro, ambos de origem embrionária.
No horizonte, pesquisadores enfatizam a necessidade de ampliar investigações para outros transtornos psiquiátricos e diferentes amostras populacionais. Estudos adicionais deverão detalhar mecanismos biológicos subjacentes e eventuais aplicações diagnósticas, reforçando o interesse crescente na interconexão entre saúde mental e pele.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)