Pesquisa revela que homens usam vocal fry tanto quanto mulheres

Sydney — InkDesign News — Pesquisadores australianos revelaram, em estudo publicado em setembro de 2025, que o fenômeno conhecido como vocal fry — tom crepitante observado na fala — é utilizado em igual proporção por homens e mulheres adolescentes, contrariando suposições populares sobre sua predominância feminina. O trabalho analisou gravações de mais de três décadas realizadas na região de Northern Beaches, Sydney.
O Contexto da Pesquisa
Discussões sobre padrões vocais, especialmente o vocal fry, ganharam intensidade nos últimos anos, frequentemente focadas nas mulheres. Tal fenômeno, caracterizado por uma vibração crepitante da voz, tem sido associado a celebridades e debatido em termos de percepção e aceitabilidade social. No entanto, segundo a linguista Felicity Cox, da Macquarie University, a “atenção desproporcional” ao uso do vocal fry por mulheres não era sustentada por dados abrangentes. Isso motivou o presente estudo, que aproveitou a estabilidade linguística histórica da região de Northern Beaches, um dos distritos menos diversos linguisticamente de Sydney desde os anos 1980.
Resultados e Metodologia
O trabalho comparou gravações de adolescentes feitas em 1989 com novas coletas de áudio da população jovem atual, utilizando ferramentas automáticas de detecção acústica do vocal fry. A análise revelou que cerca de 19% dos participantes de ambos os gêneros empregaram o vocal fry em algum momento da fala. O fenômeno foi mais frequente antes de pausas conversacionais, e homens tendem a utilizá-lo fora desses contextos. A percepção de que o efeito seria um “problema feminino” pode estar mais ligada à diferença de frequência vocal entre mulheres e homens — tons normais mais altos nas mulheres tornam o crepitar do vocal fry mais notável, segundo Joshua Penney, coautor do artigo.
“Pode ser que o crepitar seja simplesmente mais notado em vozes femininas porque há uma diferença maior de frequência entre o tom ‘normal’ mais alto e o tom crepitante mais grave nas mulheres.”
(“It may be that creak is simply more noticeable in female speakers because there tends to be a larger pitch difference between a higher ‘normal’ voice and the lower-frequency creaky voice in females.”)— Joshua Penney, coautor do estudo
Outro achado do estudo foi que, nos anos 1980, meninos adolescentes usavam vocal fry em proporção superior à observada hoje, invertendo a narrativa mais comentada nos debates públicos. Um exemplo citado foi o do ator Sean Connery, cuja fala icônica em “James Bond” exemplifica o uso do recurso de maneira pouco criticada.
“Escute Sean Connery dizer ‘Bond. James Bond’ e você ouvirá o crepitar”
(“Listen to Sean Connery say ‘Bond. James Bond’ and you’ll hear creak.”)— Joshua Penney, coautor do estudo
Implicações e Próximos Passos
O estudo desafia estigmas sociais ligados à fala feminina e sugere que percepções negativas em torno do vocal fry refletem mais preconceitos do que diferenças reais no uso. As conclusões podem impactar debates sobre igualdade e diversidade na comunicação, além de estimular revisões dos critérios em treinamentos vocacionais ou midiáticos. A equipe destaca a necessidade de ampliar amostras em grupos étnicos e regiões diversas, para aprofundar o entendimento sobre variações linguísticas e sociais do fenômeno.
Em próximos desdobramentos, espera-se que pesquisas futuras abordem o impacto do vocal fry em percepções profissionais e acadêmicas, e avaliem se tendências similares são observadas em outras comunidades linguísticas. O progresso nessa linha pode redefinir abordagens de treinamento vocal e combater estigmatizações de gênero e classe na fala cotidiana.
Fonte: (Popular Science – Ciência)