
Budapeste — InkDesign News — Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Eötvös Loránd, em Budapeste, demonstra que cães dotados de habilidades especiais para linguagem — os chamados Gifted Word Learner (GWL) dogs — são capazes de categorizar brinquedos não pelo formato, mas pela função, uma habilidade até então atribuída apenas a crianças humanas em fase de desenvolvimento. Os resultados, publicados nesta semana no periódico Current Biology, ampliam as fronteiras do conhecimento sobre cognição animal.
O Contexto da Pesquisa
Ao longo das últimas décadas, diferentes pesquisas já demonstraram que cães podem compreender palavras, lembrar de objetos e até se comunicar usando painéis de botões. Entretanto, pouco se sabia sobre a forma como cães categorizam objetos: se fariam isso baseando-se apenas na aparência física ou se também levariam em conta como são utilizados, uma habilidade cognitiva complexa observada em crianças pequenas humanas. Segundo os autores, essa distinção entre aspecto e função é fundamental para entender as bases da linguagem e categorização em animais.
Resultados e Metodologia
O experimento ocorreu nas casas dos cães participantes sob supervisão de seus tutores. Inicialmente, os animais foram expostos a dois grupos de brinquedos: um para puxar (“pull”) e outro para buscar (“fetch”), sem semelhanças físicas entre eles. Os tutores reforçaram as ações correspondentes aos termos durante as brincadeiras, sem qualquer treinamento extensivo. Posteriormente, foram apresentados novos brinquedos de cada categoria, sem identificar suas funções verbalmente.
Os resultados mostraram que os GWL dogs conseguiram associar corretamente os brinquedos às ações — mesmo com novos objetos e sem ouvir as palavras correspondentes. Isso sugere que os cães são capazes de generalizar conceitos baseados em função, assim como fazem os humanos ao agrupar, por exemplo, martelos e pedras como instrumentos para bater.
“Descobrimos que esses cães Gifted Word Learner podem estender rótulos a itens que possuem a mesma função ou são usados da mesma forma.”
(“We discovered that these Gifted Word Learner dogs can extend labels to items that have the same function or that are used in the same way.”)— Claudia Fugazza, etóloga, Universidade Eötvös Loránd
“Para esses novos brinquedos, eles nunca ouviram o nome, mas brincaram de puxar ou buscar, então o cão tem que escolher qual brinquedo foi usado em qual brincadeira.”
(“For these new toys, they’ve never heard the name, but they have played either pull or fetch, and so the dog has to choose which toy was used to play which game.”)— Claudia Fugazza, etóloga, Universidade Eötvös Loránd
Implicações e Próximos Passos
Os dados reforçam a teoria de que cães conseguem formar representações mentais de objetos e revisitá-las com base não apenas em aparência, mas também em experiência funcional e associações verbais. No entanto, o escopo da pesquisa foi limitado a cães classificados como GWL, considerados excepcionais em aprendizado de nomes.
Futuros estudos deverão incluir amostras mais amplas e cães típicos, a fim de investigar se cães da população em geral também conseguem categorizar objetos por função. Os pesquisadores recomendam investigações complementares para verificar se essa habilidade existe independentemente do aprendizado de nomes, assim como analisar a durabilidade dessas memórias e sua aplicação em tarefas cotidianas dos animais.
Este avanço pode impactar estratégias de treinamento, assistências e entendimento da cognição animal, além de estimular debates sobre até onde vai a compreensão dos cães sobre o mundo humano.
Fonte: (Popular Science – Ciência)