
Brasília — InkDesign News — Uma recente análise conduzida pela historiadora Lucy Inglis revela registros inéditos sobre o acompanhamento médico de mulheres no Egito Antigo, destacando pioneiras como a médica Peseshet, atuante por volta de 2500 a.C., e os métodos utilizados para diagnóstico e saúde reprodutiva, incluindo o primeiro teste de gravidez da história, documentado há mais de três mil anos.
O Contexto da Pesquisa
O estudo mergulha em manuscritos e achados arqueológicos do Egito Antigo, período em que a evolução da espécie humana resultou em maiores desafios para o parto devido ao aumento do volume craniano e ao estreitamento do canal de parto. Esse contexto elevou a importância da assistência durante a gravidez e o nascimento. Entre os principais documentos analisados estão o Papiro Ginecológico de Kahun, de 1825 a.C., e o Papiro de Berlim, de 1350 a.C., considerados os primeiros textos dedicados à ginecologia e à obstetrícia.
Resultados e Metodologia
A pesquisa identificou a atuação de Peseshet, reconhecida como Supervisora das Médicas, registrada na tumba de seu filho Akhethotep, em Saqqara. Profissionais como Peseshet pertenciam à elite letrada, um detalhe corroborado pelos registros funerários da época. O Papiro de Kahun apresenta tratamentos que hoje soam inusitados, como o uso de incenso, gordura de ganso e fígado de asno para tratar supostos problemas do útero.
A análise de um caso de enxaqueca, segundo o papiro, atribuía o sintoma a “descargas do útero nos olhos” (“discharges of the womb in her eyes”) e recomendava métodos como fumigação e ingestão de fígado animal.
— Lucy Inglis, Historiadora, Pegasus Books
Entre os procedimentos mais notáveis está o antigo teste de gravidez, elaborado com cevada e trigo regados pela urina da mulher. Se os grãos germinassem, haveria confirmação da gestação, além de tentativas de prever o sexo da criança. Curiosamente, testes modernos realizados a partir de 1963 comprovaram a eficácia do método original em cerca de 70% dos casos.
Implicações e Próximos Passos
O estudo reavalia a percepção cultural sobre o corpo feminino e a menstruação no Egito Antigo, contestando hipóteses clássicas que associavam as licenças menstruais masculinas somente à ideia de impureza. Novos achados apontam para complexas relações familiares e de trabalho, sugerindo um possível afastamento dos homens para proteger mulheres em períodos fisiológicos vulneráveis.
“Talvez não fossem as mulheres consideradas impuras, mas os trabalhadores que evitavam expor suas famílias à morte durante a menstruação.”
(“Perhaps it was not the women who were unclean but the workers.”)— Lucy Inglis, Historiadora, Pegasus Books
Além disso, a persistência do conceito do “útero errante” pelos milênios destaca a continuidade e transformação de tabus ginecológicos na história.
Especialistas argumentam que compreender o desenvolvimento desses saberes e crenças médicas pode ampliar as discussões sobre saúde da mulher em sociedades antigas e contemporâneas, influenciando não só a arqueologia como áreas médicas e sociais. Pesquisas futuras podem investigar outras civilizações, cruzando práticas e crenças para reconstruir redes históricas de conhecimento.
O avanço no acesso a fontes primárias, aliado à análise interdisciplinar, promete trazer novos elementos para o entendimento da autonomia e cuidados femininos em diferentes períodos históricos.
Fonte: (Live Science – Ciência)