Panamá — InkDesign News — Um estudo recente conduzido pelo Smithsonian Tropical Research Institute, no Panamá, revela que o comportamento singular de agitar as pernas traseiras do percevejo matador (Bitta alipes) é uma sofisticada estratégia de defesa contra predadores, e não um ritual de acasalamento como se imaginava. Os resultados do trabalho, publicados em junho de 2024, desafiam suposições antigas sobre os mecanismos de sobrevivência de insetos nas florestas tropicais.
O Contexto da Pesquisa
Pesquisadores buscavam entender o propósito dos movimentos “bandeira vermelha” realizados por espécies como o percevejo matador, frequentemente observados nas florestas do Panamá. Estudos anteriores sugeriam um papel reprodutivo para as exibições, associando o balançar das pernas principalmente aos machos em busca de fêmeas. Entretanto, esses indícios nunca foram comprovados experimentalmente, e tanto machos quanto fêmeas mostraram o comportamento, sem correlação com corte ou disputa por parceiros.
Resultados e Metodologia
A equipe do Smithsonian expôs os percevejos matadores a dois grupos distintos de artrópodes: louva-a-deus, predadores naturais, e katidídeos, inofensivos. Ao todo, cerca de 3.000 movimentos de pernas foram registrados. Observou-se que diante de louva-a-deus, os percevejos aumentaram o comportamento de agitar as pernas em média sete vezes mais do que diante dos katidídeos, virtualmente ignorados. A ausência de resposta dos predadores às “bandeiras” reforçou seu papel na defesa, uma hipótese testada também ao grampear apêndices vermelhos em grilos, o que levou aves predadoras a evitarem os “falsos matadores”.
“Os resultados apontam que o movimento das pernas serve essencialmente como uma estratégia antipredação e é ativado em situações de risco.”
(“The results point to leg waving as an anti-predator strategy, strategically deployed when danger is near.”)— Ummat Somjee, Biólogo Evolutivo, Smithsonian Tropical Research Institute
Além da espécie Bitta alipes, ao menos outras cinco espécies aparentadas exibem comportamento semelhante. Todas são especialistas em plantas tóxicas do gênero Passiflora, o que sugere uma mensagem visual para predadores, possivelmente sinalizando sua própria toxicidade.
Implicações e Próximos Passos
A pesquisa traz novas reflexões sobre estratégias de defesa visual em insetos tropicais. “Ficamos com mais perguntas do que respostas”, comentou Somjee após a publicação.
“Mas essa é a beleza de estudar insetos — existem centenas de milhares de espécies, a maioria completamente inexplorada, e sempre que olhamos de perto descobrimos comportamentos que desafiam a forma como pensamos sobre evolução.”
(“But that’s the beauty of studying insects — there are hundreds of thousands of species, most of them completely unstudied, and every time we look closely we uncover behaviors that change the way we think about evolution.”)— Ummat Somjee, Biólogo Evolutivo, Smithsonian Tropical Research Institute
Além de ampliar a compreensão sobre comunicação e defesa animal, tal descoberta pode influenciar o desenvolvimento de novos métodos de controle biológico ou inspirar soluções tecnológicas baseadas em estratégias naturais.
O estudo destaca a necessidade de novas investigações, especialmente para decifrar se os insetos comunicam toxicidade ou apenas intimidam predadores por meio dos movimentos amplos das pernas. Espera-se que futuros trabalhos tragam respostas conclusivas, elucidando os segredos evolutivos ainda ocultos nas florestas tropicais.
Fonte: (Popular Science – Ciência)
