
Washington, D.C. — InkDesign News — Um novo estudo conduzido por antropólogos da Western Washington University revelou que o Homo floresiensis, popularmente chamado de “hobbit”, desenvolveu seu pequeno porte por meio de um crescimento desacelerado durante a infância, contrariando a tradicional noção de que a evolução humana é marcada por cérebros cada vez maiores. O estudo, publicado em 2024, lança luz sobre as complexas trajetórias evolutivas no gênero Homo.
O Contexto da Pesquisa
Até a descoberta do Homo floresiensis na ilha de Flores, Indonésia, em 2004, os cientistas acreditavam que a encefalização — o aumento relativo do tamanho do cérebro — era um dos principais motores da evolução humana. Segundo especialistas, cérebros proporcionalmente maiores teriam possibilitado tarefas mais complexas como o uso do fogo, produção de ferramentas, arte e domesticação de animais. O achado dos chamados “hobbits”, entretanto, questionou essa premissa, pois se tratava de um hominídeo contemporâneo do Homo sapiens, mas com altura não superior a um metro e cérebro de tamanho próximo ao de um chimpanzé.
A descoberta “abalou a suposição de que os cérebros vêm aumentando de tamanho ao longo dos últimos milhões de anos e gerou confusão sobre o que separa nossos parentes recentes do gênero Homo de nossos ancestrais mais antigos”.
(“This discovery upended the assumption that brains have been increasing in size over the past several million years and generated confusion about what separates recent human relatives in our genus Homo from our more ancient ancestors.”)— Professores de Antropologia, Western Washington University
Resultados e Metodologia
Os pesquisadores analisaram dados de dentes e caixas cranianas de 15 espécies fósseis ao longo de cerca de 5 milhões de anos. A equipe observou que, ao contrário do padrão usual — onde espécies com cérebros maiores apresentam terceiros molares (dentes do siso) proporcionalmente menores — o Homo floresiensis possui dentes do siso pequenos, mas cérebro reduzido, o que é incomum entre os hominídeos.
A hipótese surgida dessa análise sugere que a trajetória evolutiva do H. floresiensis envolveu um freio em seu crescimento corporal durante a infância, e não durante a gestação. Isso foi deduzido pela formação dos dentes, que ocorre ainda no útero, e se manteve semelhante à de outros membros do gênero Homo. Apenas o desenvolvimento pós-natal teria desacelerado, resultando no tamanho diminuto do corpo e do cérebro.
“O processo de desaceleração do crescimento durante a infância explicaria a origem do porte reduzido do Homo floresiensis sem afetar significativamente a função cerebral.”
(“Our research supports that their small body size originated from a slowdown in growth during childhood. But this process would likely have had little impact on brain function or cognitive ability.”)— Professores de Antropologia, Western Washington University
Implicações e Próximos Passos
A adaptação ao ambiente insular, fenômeno conhecido como nanismo insular, é uma possível explicação para a estatura do H. floresiensis. Situações de disponibilidade limitada de alimentos e poucos predadores favorecem o surgimento de mamíferos menores em ilhas isoladas, padrão também observado no pequeno elefante Stegodon sondaarii, contemporâneo do “hobbit”.
Os autores destacam que o tamanho menor do cérebro em populações adaptadas ao nanismo insular não implica em menor capacidade cognitiva. Evidências indicam que o H. floresiensis fabricava ferramentas líticas, caçava animais de porte relativamente grande e provavelmente utilizava o fogo. A pesquisa desafia o foco exclusivo no aumento do cérebro como força dominante na evolução humana, sugerindo que traços de desenvolvimento infantil tenham papel igualmente relevante.
Para os próximos anos, os autores defendem novas investigações sobre o cruzamento entre desenvolvimento dental e cerebral no registro fóssil, o que pode trazer respostas fundamentais sobre as origens humanas. O estudo incentiva a revisão de paradigmas sobre evolução, abrindo espaço para debates sobre diversidade morfológica e funcional entre espécies extintas do gênero Homo.
Fonte: (Live Science – Ciência)