Sydney — InkDesign News — Um estudo da Macquarie University, publicado recentemente na revista Biology Letters, revela que os lagartos sleepy lizards (Tiliqua rugosus) da Austrália possuem uma resposta inata ao cheiro de fumaça, sugerindo que a evolução dotou essas espécies com a capacidade de perceber e reagir a incêndios iminentes. A pesquisa coloca em novo foco como répteis reagem ao fogo em um momento de aumento mundial da frequência de incêndios florestais.
O Contexto da Pesquisa
A sensibilidade de alguns animais ao fogo é tema de observações há décadas. Estudos anteriores já haviam registrado comportamentos incomuns em lagartos diante do cheiro de queimado. Um exemplo citado ocorreu no Audubon Zoo, em Nova Orleans, quando funcionários notaram que sleepy lizards, mesmo criados em cativeiro, agitavam-se intensamente e buscavam fugir ao sentir fumaça, enquanto outros répteis próximos não demonstravam reação semelhante. Tais evidências sugeriam que a resposta estaria enraizada na biologia da espécie, não sendo apenas aprendizagem.
Resultados e Metodologia
Pesquisadores australianos testaram a teoria expondo lagartos ao cheiro de fumaça e ao ruído de fogo crepitando, isoladamente e em conjunto. Os estudos demonstraram que apenas o odor desencadeava comportamento de fuga, enquanto o som sozinho não causava reação significativa. Este efeito, segundo o artigo, reforça que trata-se de uma resposta inata.
“Nosso estudo demonstra que alguns lagartos reconhecem fumaça como um sinal de fogo iminente e respondem fugindo.”
(“Our study demonstrates that some lizards innately recognize smoke as a cue of approaching fire and respond by running away.”)— Chris Jolly, Comportamentalista, Macquarie University
A equipe reforçou a importância da descoberta especialmente para espécies de regiões onde incêndios são historicamente frequentes, como é o caso da fauna australiana.
Implicações e Próximos Passos
Os resultados preocupam pesquisadores em função das mudanças climáticas, que tornam incêndios mais intensos e imprevisíveis, inclusive em regiões que antes raramente eram atingidas pelo fogo, como florestas tropicais úmidas.
“À medida que incêndios se tornam mais frequentes, intensos e imprevisíveis — inclusive em habitats que raramente queimavam no passado, como florestas tropicais — precisamos saber quais espécies podem responder ao fogo, e quais são mais vulneráveis.”
(“As fires become more frequent, intense and unpredictable—including in habitats that rarely burned in the past, like rainforests—we need to know which species can respond to fire cues, and which are most vulnerable.”)— Chris Jolly, Comportamentalista, Macquarie University
Compreender que algumas espécies já desenvolveram mecanismos evolutivos para sobreviver pode direcionar políticas de conservação e estratégias de manejo da fauna em face do agravamento da crise climática. No entanto, os autores alertam que tais capacidades não garantem que a vida selvagem esteja preparada para o cenário atual de extremos.
A continuidade dos estudos será fundamental para identificar outras espécies dotadas desta sensibilidade, além de mapear aquelas em maior risco de extinção diante do aumento dos incêndios florestais.
Fonte: (Popular Science – Ciência)
