
Hull — InkDesign News — Uma equipe de arqueólogos detalhou a descoberta e o estudo continuado de um conjunto de figuras de madeira denominadas “Roos Carr figures”, esculpidas entre 600 e 500 a.C. em Roos Carr, East Yorkshire, no Reino Unido. A pesquisa recente, conduzida no Hull and East Riding Museum of Archaeology, investiga o significado ritual dessas peças, que desafiam entendimentos modernos sobre identidade de gênero e práticas religiosas pré-históricas.
O Contexto da Pesquisa
As figuras de Roos Carr foram encontradas por trabalhadores em 1836, ao escavar um canal de drenagem em Roos, na costa leste da Inglaterra. No achado estavam oito figuras humanas, dois barcos em miniatura e pequenos artefatos de armas, sob uma camada de argila azul. Três figuras e um dos barcos não puderam ser removidos devido ao seu deteriorado estado. Essas esculturas foram datadas por carbono para a Idade do Bronze Tardia, um período marcado pela intensa atividade ritual na Inglaterra pré-romana.
O Hull and East Riding Museum of Archaeology destacou que “os Roos Carr figurines desafiam nossa concepção moderna de identidade de gênero e papéis de gênero” (“The Roos Carr figurines ‘challenge our modern day conception of gender identity and gender roles’”), citando o fato de que as peças apresentam genitália removível e podem ser vistas tanto como masculinas quanto femininas.
Resultados e Metodologia
As análises, conduzidas desde o século XIX até estudos recentes de 1990, exploram diversas hipóteses para o propósito das figuras. Inicialmente, pensou-se que as oito figuras representariam os ocupantes da Arca de Noé. Outra teoria inicial atribuía-lhes conexão com cultos de significado obscuro.
No entanto, dados reunidos sugerem relação com rituais ligados ao deus Odin, ou sua encarnação anterior, Ull. Odin, frequentemente associado ao teixo (a madeira usada nas figuras) e à transmutação de forma, teria, segundo o museu, apenas um olho bom, refletido nos olhos de quartzo das figuras de tamanhos bastante distintos.
“A presença de olhos de quartzo assimétricos referencia o mito de Odin, que sacrificou um olho para obter conhecimento do futuro”
(“The presence of asymmetrical quartzite eyes references the myth of Odin, who sacrificed one eye for knowledge of the future”)— Curadoria, Hull and East Riding Museum of Archaeology
Os orifícios na região pélvica, nos quais peças curvas podem ser inseridas ou removidas, sugerem identidades de gênero flexíveis, alinhando-se à narrativa mítica de Odin como mago e transmorfo. A descoberta sob argila reforça a interpretação de uma oferenda ritual, prática comum em sítios aquáticos da pré-história europeia.
Implicações e Próximos Passos
As Roos Carr figures ampliam o debate sobre gênero e identidade em sociedades antigas e sua ligação com o universo simbólico religioso. Além disso, o uso de materiais e a iconografia — barcos com cabeças de serpente marinha e armas miniaturizadas — levantam novas questões sobre sua finalidade e o contexto marítimo-ritual do período.
Segundo análises do museu, “o significado dessas figuras permanece inconclusivo, mas há evidências de atividades ritualísticas relacionadas aos deuses nórdicos” (“the meaning of these figurines remains elusive, but there is evidence of ritualistic activity related to Nordic gods”).
Pesquisadores preveem aprofundamento nos estudos, com ênfase em análises comparativas com outros artefatos antropomórficos europeus, e avanços em tecnologias de datação e análise de resíduos orgânicos, que podem lançar mais luz sobre o uso original destas peças.
Para a arqueologia e estudos de história religiosa, estes achados abrem caminhos para revisões no entendimento sobre práticas rituais, diversidade de gênero e identidade na Idade do Bronze. Espera-se que futuras descobertas e técnicas analíticas avancem o diálogo interdisciplinar sobre a Europa pré-histórica.
Fonte: (Live Science – Ciência)