
Londres — InkDesign News — Uma equipe internacional de cientistas revelou que anéis de DNA extrachromossomal (ecDNA), que flutuam fora dos cromossomos convencionais, desempenham papel crucial no desenvolvimento do glioblastoma — o tipo mais comum e agressivo de câncer cerebral em adultos. O estudo, publicado em 8 de setembro na Cancer Discovery, sugere que o ecDNA contendo genes que impulsionam o câncer aparece nas fases iniciais da doença, indicando novas oportunidades para diagnóstico precoce e tratamentos mais eficazes.
O Contexto da Pesquisa
Glioblastoma permanece um dos maiores desafios da oncologia, com sobrevida média de cerca de 14 meses e escassos avanços terapêuticos nas últimas décadas. O papel do ecDNA em tumores vem sendo gradativamente desvendado — ele já foi identificado em outros cânceres pediátricos e adultos, mas sua complexidade é reconhecida pela comunidade científica. Em 2022, o consórcio internacional eDyNAmiC foi financiado pelo programa Cancer Grand Challenges, vinculando pesquisadores do Reino Unido e dos EUA, com o objetivo de decifrar mecanismos evolutivos do ecDNA e buscar formas de combatê-lo.
Resultados e Metodologia
A pesquisa, liderada pelo Dr. Benjamin Werner, da Queen Mary University of London, e pelo professor Paul Mischel, da Stanford University, em colaboração com o professor Charlie Swanton, do Francis Crick Institute, combinou análise genômica e de imagens de pacientes com glioblastoma a sofisticadas modelagens computacionais da evolução do ecDNA no espaço e no tempo. Os cientistas coletaram amostras múltiplas dos tumores, simulando milhões de cenários para reconstruir a emergência e propagação dos primeiros ecDNAs.
Segundo o estudo, a maioria dos anéis de ecDNA continha o gene EGFR, responsável por promover o crescimento tumoral. O ecDNA com esse gene surgiu cedo na evolução do câncer — em alguns casos, antes mesmo da formação do tumor. Mutantes como o EGFRvIII estiveram associados a maior agressividade e resistência a terapias.
“Estudamos os tumores de forma semelhante ao trabalho de um arqueólogo. Em vez de pegar uma única amostra, escavamos múltiplos locais ao redor do tumor, permitindo construir modelos computacionais que descrevem sua evolução. Simulamos milhões de cenários diferentes para reconstruir como os primeiros ecDNAs surgiram, se espalharam e impulsionaram a agressividade tumoral, trazendo à tona uma visão mais clara das origens e progressão do tumor.”
(“We studied the tumours much like an archaeologist would. Rather than taking a single sample, we excavated multiple sites around the tumour, allowing us to build computational models describing how they evolved. We simulated millions of different scenarios to reconstruct how the earliest ecDNAs emerged, spread, and drove tumour aggressiveness, giving us a clearer picture of the tumour’s origins and progression.”)— Dr. Benjamin Werner, Queen Mary University of London
Os autores destacam que intervenções poderiam ser mais eficazes se realizadas entre o surgimento inicial do ecDNA EGFR e o desenvolvimento de variantes mais agressivas. A detecção precoce por métodos minimamente invasivos, como exames de sangue, é uma possibilidade discutida.
“Esses achados sugerem que o ecDNA não é apenas um passageiro no glioblastoma, mas um motor poderoso e precoce da doença. Ao rastrear quando e como o ecDNA surge, ampliamos as oportunidades de detectar o glioblastoma muito antes de ele se tornar tão agressivo e resistente à terapia.”
(“These findings suggest that ecDNA is not just a passenger in glioblastoma, but an early and powerful driver of the disease. By tracing when and how ecDNA arises, we open up the possibility of detecting glioblastoma much earlier and intervening before it becomes so aggressive and resistant to therapy.”)— Charlie Swanton, Francis Crick Institute e Cancer Research UK
Implicações e Próximos Passos
A identificação do ecDNA como marcador precoce e condutor evolutivo do glioblastoma representa um avanço significativo no entendimento dessa neoplasia. O estudo reforça a importância de estratégias personalizadas, pautadas no perfil genético tumoral, para aprimorar o tratamento. O grupo eDyNAmiC concentra esforços agora em compreender como diferentes terapias alteram a quantidade e as características do ecDNA, tanto em glioblastoma quanto em outros cânceres.
O diretor do Cancer Grand Challenges, Dr. David Scott, avaliou que esta investigação “abrirá caminhos inovadores para detecção e tratamento mais precoces”, ressaltando que a colaboração entre disciplinas propicia avanços diante do desafio do câncer.
No horizonte, a expectativa é de que testes de detecção precoce e abordagens terapêuticas direcionadas ao ecDNA se consolidem como novas ferramentas para oncologistas, na esperança de reverter a morbidade associada ao glioblastoma e a outros tumores refratários.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)