Osijek — InkDesign News — Um estudo publicado na revista PLOS One detalha a descoberta de uma sepultura coletiva do século III, em Osijek, leste da Croácia, revelando o papel central da diversidade étnica entre soldados do exército romano durante o período da Crise do Terceiro Século.
O Contexto da Pesquisa
Sob ocupação romana há dois milênios, a cidade croata de Osijek, então denominada Mursa, tornou-se palco de intensos conflitos na chamada “Crise do Terceiro Século”. Entre 235 e 284 d.C., o Império Romano dividiu-se em três entidades rivais, sofrendo enorme pressão econômica, política e militar. Pesquisas arqueológicas na região já sugeriam batalhas, destacando a morte de soldados não identificados em confrontos locais.
Resultados e Metodologia
Em 2011, arqueólogos localizaram sete esqueletos masculinos completos — todos adultos, com idades entre 18 e 50 anos — em antigos poços d’água reaproveitados para sepultamento coletivo. Análises bioarqueológicas, incluindo datação por radiocarbono, confirmaram a morte na segunda metade do século III. Os espécimes apresentavam traumas fatais: perfurações, fraturas nas costelas e lesões por impacto craniano. A presença de uma moeda romana, datada de 251 d.C., reforçou a hipótese de vínculo com a batalha de Mursa, em cerca de 260 d.C.
No entanto, análises genômicas mostraram que “nenhum dos soldados compartilhava ancestralidade com populações locais da Idade do Ferro”, indicando origem externa à região. Em concordância com registros históricos, a diversidade genética encontrada sugere o recrutamento heterogêneo de soldados estrangeiros pelo Império Romano. Segundo os autores:
“A diversidade genética observada pode refletir a dependência do Império Romano de recrutamentos militares heterogêneos, corroborando evidências históricas da integração de grupos ‘estrangeiros’ nas forças imperiais.”
(“The observed genetic diversity might reflect the reliance of the Roman Empire on heterogeneous military recruitments, corroborating historical evidence for the integration of ‘foreign’ groups into imperial forces.”)— Autores do estudo, PLOS One
O estudo ainda menciona outros exemplos de sepultamentos de soldados com altas diferenças genéticas em regiões que integravam a Roma Antiga, como na Macedônia e em locais relacionados ao exército de Napoleão. Os autores afirmam:
“A coexistência de históricos genéticos altamente diversos entre os indivíduos analisados geneticamente reforça a interpretação de que esses sepultamentos possuem origens militaristas.”
(“The coexistence of highly diverse genetic backgrounds among the genetically analyzed individuals strengthens the interpretation of these burials having militaristic origins.”)— Autores do estudo, PLOS One
Implicações e Próximos Passos
A pesquisa corrobora a visão de que a força militar romana era sustentada por contingentes compostos de diferentes origens étnicas, integrando povos como sármatas, saxões e gauleses. Este modelo de alistamento, reconhecido em fontes históricas, reforça a robustez e adaptabilidade do aparato bélico romano durante períodos de crise. Para os pesquisadores, o avanço da arqueogenética poderá permitir a identificação de padrões migratórios, estratégias militares e dinâmicas sociais das forças imperiais, além de comparações com contextos bélicos modernos.
Estudos futuros devem focar no cruzamento das análises osteológicas a bancos genéticos do Mediterrâneo, ampliando a compreensão sobre mobilidade, recrutamento e integração cultural nos exércitos históricos.
Fonte: (Popular Science – Ciência)
