
Nova York — InkDesign News — Uma equipe internacional de cientistas do Montefiore Einstein Comprehensive Cancer Center (MECCC) e do Albert Einstein College of Medicine, nos Estados Unidos, revelou pela primeira vez que o glioblastoma — a forma mais letal de câncer cerebral — não apenas compromete o tecido cerebral, mas também degrada o crânio, altera a medula óssea craniana e desequilibra o sistema imune. Os resultados, publicados em 3 de outubro na Nature Neuroscience, indicam que terapias direcionadas à inibição da perda óssea do crânio podem, paradoxalmente, tornar o câncer ainda mais agressivo.
O Contexto da Pesquisa
O glioblastoma, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer dos EUA (NCI), afeta cerca de 15.000 pessoas anualmente, com sobrevida mediana de 15 meses após o tratamento convencional composto por cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Estudos anteriores identificaram canais microscópicos que conectam a calota craniana ao cérebro, permitindo a transição de moléculas e células entre a medula óssea do crânio e o cérebro. A equipe liderada pela professora assistente Jinan Behnan, Ph.D., foi motivada por essas descobertas, buscando elucidar se tais canais poderiam ser vias de interação direta entre o tumor e a resposta imune do organismo.
“Nossa descoberta de que este tipo de câncer cerebral, notoriamente difícil de tratar, interage com o sistema imunológico do corpo pode ajudar a explicar por que as terapias atuais — todas tratando o glioblastoma como uma doença local — falharam, e esperamos que leve a estratégias de tratamento mais eficazes.”
(“Our discovery that this notoriously hard-to-treat brain cancer interacts with the body’s immune system may help explain why current therapies — all of them dealing with glioblastoma as a local disease — have failed, and it will hopefully lead to better treatment strategies.”)— Jinan Behnan, Ph.D., Professora Assistente, Albert Einstein College of Medicine e MECCC
Resultados e Metodologia
Utilizando técnicas avançadas de imagem em modelos murinos com diferentes tipos de glioblastoma, os pesquisadores observaram que os tumores provocaram erosão óssea, sobretudo nas suturas cranianas — efeito não compartilhado com AVCs, outras lesões cerebrais ou tumores sistêmicos de outros órgãos. Tomografias computadorizadas em pacientes confirmaram redução semelhante da espessura craniana.
Por meio de sequenciamento de RNA de célula única, foi detectada uma acentuada alteração na composição imunológica da medula do crânio, com predomínio de células mieloides pró-inflamatórias e redução marcante das células B produtoras de anticorpos. O influxo dessas células inflamatórias, via canais da medula óssea craniana, foi correlacionado ao aumento da agressividade tumoral e à resistência ao tratamento.
“Os canais crânio-cérebro permitem um influxo numeroso de células pró-inflamatórias da medula óssea para o tumor, tornando o glioblastoma mais agressivo e, frequentemente, intratável. Isso indica a necessidade de tratamentos que restabeleçam o equilíbrio das células imunes na medula craniana. Uma estratégia seria suprimir a produção de neutrófilos e monócitos pró-inflamatórios, restaurando ao mesmo tempo células T e B.”
(“The skull-to-brain channels allow an influx of these numerous pro-inflammatory cells from the skull marrow to the tumor, rendering the glioblastoma increasingly aggressive and, all too often, untreatable. This indicates the need for treatments that restore the normal balance of immune cells in the skull marrow of people with glioblastoma. One strategy would be suppressing the production of pro-inflammatory neutrophils and monocytes while at the same time restoring the production of T and B cells.”)— E. Richard Stanley, Ph.D., Professor, Albert Einstein College of Medicine
Testes com medicamentos aprovados para osteoporose (ácido zoledrônico e denosumabe) mostraram eficácia contra a erosão óssea, porém um dos fármacos acelerou a progressão do tumor em determinado subtipo de glioblastoma. Ambos também inibiram os benefícios da imunoterapia baseada em anti-PD-L1.
Implicações e Próximos Passos
A pesquisa sugere que o glioblastoma deve ser considerado uma doença sistêmica, capaz de remodelar distintos compartimentos da medula óssea. Enquanto a medula craniana assume perfil inflamatório, a medula do fêmur manifesta supressão gênica. Essas descobertas podem levar ao desenvolvimento de terapias que visam modular especificamente os compartimentos da medula óssea alterados pelo câncer. Grupos internacionais, incluindo centros no Japão, Suécia e Alemanha, participaram do estudo, aprofundando a complexidade desse novo paradigma biomédico.
Especialistas preveem que novos ensaios clínicos possam focar em restaurar o equilíbrio imune da medula craniana ou bloquear seletivamente fatores inflamatórios, elevando as perspectivas de tratamento para pacientes acometidos pelo glioblastoma. O entendimento de que o tumor interage com sistemas além do cérebro poderá impulsionar a criação de terapias multidisciplinares, abordando tanto a biologia tumoral quanto os mecanismos sistêmicos de resposta.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)