Pesquisa registra maior nado já documentado de jaguar no Brasil

Goiás — InkDesign News — Um estudo divulgado em setembro documentou um feito inédito envolvendo um macho de jaguar: ele percorreu nadando uma distância recorde de até 2,48 quilômetros, muito além do limite registrado anteriormente. O caso, analisado por cientistas brasileiros, reforça o entendimento sobre a notória capacidade de natação da espécie, elemento importante para sua ecologia nos ambientes de floresta e rios no Brasil central.
O Contexto da Pesquisa
Jaguares (Panthera onca) são tradicionais habitantes de regiões de floresta entrecortadas por rios, como a Amazônia e áreas do Cerrado adjacentes. Embora a habilidade de nadar desses felinos seja conhecida, registros longitudinais de travessias extensas eram escassos. Até então, a maior distância comprovada em condições naturais era de cerca de 200 metros, valor amplamente superado segundo o novo artigo científico disponibilizado no repositório bioRxiv.
Resultados e Metodologia
O animal foi inicialmente registrado por armadilhas fotográficas em maio de 2020 nas imediações da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa, em Goiás. Imagens coletadas quatro anos depois, em agosto de 2024, confirmaram por padrões de pelagem ser o mesmo indivíduo. Para chegar a uma pequena ilha artificial formada pelo reservatório da usina, o jaguar precisou nadar pelo menos 1,27 km — e possivelmente até 2,48 km, caso a travessia tenha ocorrido de uma só vez, sem paradas em ilhotas intermediárias.
Mesmo que o trajeto tenha ocorrido em duas etapas, o feito já constitui um novo recorde para a espécie. A motivação da longa travessia não está clara:
“Prey in this region appears to be fairly evenly distributed… We think he decided to explore a new area — more likely related to searching for females or territory than a lack of food.”
(“Os recursos alimentares nessa região parecem estar relativamente distribuídos de forma uniforme… Acreditamos que ele decidiu explorar uma nova área — provavelmente relacionado à busca por fêmeas ou território, mais do que por falta de alimento.”)— Leandro Silveira, Biólogo, Jaguar Conservation Fund
O projeto recorreu à análise geográfica para mensurar as possíveis rotas do animal. As evidências de padrões recorrentes de travessias longas entre jaguares amazônicos foram destacadas por especialistas independentes, sugerindo que há subnotificação desses eventos.
“Most of the jaguar population is located in the Amazon basin… We know that jaguars do not see a river as a barrier.”
(“A maioria dos jaguares está na bacia amazônica… Sabemos que esses felinos não veem rios como um obstáculo.”)— Fernando Tortato, Coordenador de Projeto, Panthera
Implicações e Próximos Passos
O estudo sugere que a plasticidade ecológica do jaguar é maior do que se supunha, facilitando sua sobrevivência em paisagens modificadas por grandes reservatórios e em fragmentos de floresta isolados. Cientistas ponderam que a manutenção desses registros é fundamental para eventuais estratégias de conservação de corredores ecológicos e monitoramento da espécie em ambientes antrópicos. A busca por alimento ou parceiros, apontada como provável motivação, será alvo de estudos complementares para entendimento do comportamento dispersivo dos grandes felinos na região.
A descoberta amplia o horizonte para futuras investigações sobre as capacidades de deslocamento e adaptação dos jaguares, sobretudo em meio às alterações ambientais causadas por hidrelétricas e expansão do agronegócio.
Fonte: (Live Science – Ciência)