Pesquisa questiona papel dos ultraprocessados no excesso alimentar

Leeds — InkDesign News — Uma pesquisa recente conduzida por cientistas da Universidade de Leeds analisou, com mais de 3.000 adultos britânicos, as razões pelas quais pessoas escolhem determinados alimentos e, principalmente, o que leva ao consumo excessivo. O estudo lança novas luzes sobre o debate acerca dos alimentos ultraprocessados (UPFs), questionando as bases científicas de políticas públicas que os demonizam.
O Contexto da Pesquisa
A relação entre alimentos ultraprocessados e problemas de saúde como obesidade, demência e “vício em comida” tem sido tema central nas políticas de saúde pública e no debate nutricional mundial. Legisladores vêm propondo medidas como etiquetas de advertência, restrições de marketing e até proibição desses produtos próximos a escolas. Essas ações se fundamentam na crença de que produtos como refrigerantes, snacks e refeições prontas são elaborados para estimular o consumo excessivo pela manipulação do sistema de recompensa cerebral.
No entanto, os pesquisadores de Leeds defendem uma análise mais detalhada das reais motivações para o consumo e a preferência alimentar. “Queríamos entender o que realmente faz alguém gostar de um alimento e o que leva à ingestão exagerada — não apenas à apreciação, mas ao consumo sem fome,”
“Queríamos entender o que realmente faz alguém gostar de um alimento e o que leva à ingestão exagerada — não apenas à apreciação, mas ao consumo sem fome.”
(“We wanted to step back and ask: what actually makes people like a food? And what drives them to overeat – not just enjoy it, but keep eating after hunger has passed?”)— Graham Finlayson, Professor de Psicobiologia, Universidade de Leeds
Resultados e Metodologia
O estudo envolveu três levantamentos online: mais de 400 alimentos comuns do cotidiano britânico foram avaliados por voluntários, que classificaram tanto a preferência por esses itens quanto a propensão ao consumo excessivo. Os dados foram cruzados com informações nutricionais (gordura, açúcar, fibras, densidade energética), classificação dos alimentos pelo sistema Nova (grau de processamento) e percepções individuais (doçura, aparência, saudabilidade).
Os resultados desafiam assertivas simplistas sobre os ultraprocessados. Segundo os autores, crenças individuais sobre o alimento — por exemplo, considerá-lo “gorduroso” ou “processado” — influenciaram o desejo de comer, independentemente dos nutrientes. Alimentos percebidos como doces, gordurosos ou processados aumentaram a predisposição ao comer compulsivo, enquanto outros, como amargos ou ricos em fibras, inibiram.
De acordo com os pesquisadores, “Classificar um alimento como ultraprocessado pouco acrescentou aos nossos modelos preditivos de preferência ou ingestão excessiva.”
“Classificar um alimento como ultraprocessado pouco acrescentou aos nossos modelos preditivos de preferência ou ingestão excessiva.”
(“Classifying a food as ‘ultra-processed’ added very little to our predictive models.”)— James Stubbs, Professor de Apetite e Balanço Energético, Universidade de Leeds
Após considerar os nutrientes e percepções sensoriais, a classificação como ultraprocessado explicou menos de 2% na variação de gosto e apenas 4% na tendência ao excesso. Por outro lado, fatores como valor calórico e ausência de fibras estiveram fortemente associados ao consumo exagerado.
Implicações e Próximos Passos
A pesquisa indica que políticas baseadas unicamente na classificação de alimentos como ultraprocessados podem ser imprecisas e até contraproducentes. Produtos rotulados como UPFs englobam tanto itens saudáveis, como cereais integrais fortificados, quanto alimentos nutricionalmente pobres. O estudo recomenda a promoção da alfabetização alimentar e repensar o design dos alimentos, focando em sabores e saciedade, além do estímulo ao entendimento dos próprios sinais de fome.
Os próximos passos indicam a necessidade de uma abordagem mais personalizada e baseada em ciência do comportamento alimentar, considerando fatores psicológicos, sociais e sensoriais envolvidos nas escolhas alimentares.
À medida que os debates sobre regulação de ultraprocessados avançam, especialistas destacam que compreender a complexidade dos motivos que levam ao consumo será vital para políticas públicas realmente eficazes. Orientar a população para escolhas alimentares mais satisfatórias e informadas pode gerar melhores resultados do que demonizar categorias inteiras de produtos.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)