
Tóquio — InkDesign News — Cientistas da Universidade de Tóquio anunciaram a descoberta de grandes fragmentos enigmáticos de DNA no microbioma bucal humano. O estudo, publicado em 11 de agosto na revista Nature Communications, revelou que essas estruturas, chamadas de “inocles”, possuem potencial para influenciar diretamente o sistema imunológico e até mesmo servir como marcadores na detecção precoce de alguns cânceres.
O Contexto da Pesquisa
A microbiota da boca humana, composta por uma vasta comunidade de bactérias e outros microrganismos, é reconhecida há anos por impactar a saúde bucal e sistêmica. No entanto, pese aos avanços das últimas décadas em estudos de microbiomas, permaneciam lacunas importantes sobre como a variação genética desses microrganismos se relacionava com o estado imunológico e doenças específicas. Inspirados pela identificação recente de elementos extragromossômicos gigantes no solo, os pesquisadores liderados por Yuya Kiguchi decidiram investigar se estruturas semelhantes poderiam estar presentes no microbioma oral.
Resultados e Metodologia
Utilizando amostras de saliva de centenas de indivíduos, os pesquisadores empregaram a tecnologia de sequenciamento de DNA de leitura longa, uma técnica que permite identificar fragmentos muito maiores de material genético do que métodos tradicionais. Dessa forma, detectaram pela primeira vez os “inocles” — grandes elementos circulares de DNA fora do cromossomo principal das bactérias orais. Cerca de 74% dos participantes apresentavam essas estruturas. A equipe correlacionou a presença de inocles com amostras de sangue dos mesmos indivíduos e identificou vínculos diretos entre a abundância desses fragmentos e respostas variadas do sistema imunológico, incluindo defesa contra infecções bacterianas e virais.
Entre os achados, pessoas diagnosticadas com certos tipos de câncer de cabeça e pescoço ou colorretal apresentavam níveis significativamente mais baixos de inocles em seu microbioma oral. Tal fato levanta a possibilidade do uso dessas estruturas como potenciais biomarcadores para câncer.
“Agora que sabemos que os inocles existem, podemos tentar compreender suas funções e possíveis papéis na saúde e na doença.”
(“Now that we know that inocles exist, we can try and figure out their functions and potential roles in health and disease.”)— Floyd Dewhirst, Professor, ADA Forsyth Institute
Implicações e Próximos Passos
O estudo lança luz sobre um novo componente genético do microbioma oral, capaz de alterar a compreensão sobre a interface entre microrganismos e imunidade humana. Além disso, abre caminhos para o desenvolvimento de futuras estratégias diagnósticas ou terapêuticas personalizadas.
Os cientistas planejam isolar e cultivar inocles em laboratório para elucidar suas funções e os mecanismos pelos quais podem ser transferidos entre bactérias e hospedeiros humanos.
“Talvez muitos desses grandes elementos extragromossômicos estejam presentes no ambiente, em microbiomas ou mesmo em patógenos, só não os conhecemos ainda nos microbiomas comensais humanos.”
(“Maybe many of these giant extra chromosomal elements are found in the environment, the microbiome field, or pathogens… But we don’t know any examples of this kind of giant extra chromosomal element from the commensal [human] microbiome.”)— Yuya Kiguchi, Pesquisador, Universidade Stanford
A descoberta de inocles representa um “novo quebra-cabeça” para desvendar os papéis do microbioma na saúde humana. As próximas etapas poderão esclarecer de que forma esses elementos influenciam a regulação imunológica e o surgimento de doenças, indicando possíveis alvos para intervenções médicas no futuro.
Fonte: (Live Science – Ciência)