
Chicago — InkDesign News — O aumento expressivo das overdoses fatais entre adultos com 65 anos ou mais nos Estados Unidos, envolvendo a combinação de fentanil com estimulantes como cocaína e metanfetaminas, foi revelado em uma pesquisa apresentada no encontro anual ANESTHESIOLOGY® 2025, sediado em Chicago. O estudo destaca que esse fenômeno, até então atribuído principalmente a adultos mais jovens, agora também afeta intensamente a população idosa desde 2015.
O Contexto da Pesquisa
Tradicionalmente, análises sobre a crise dos opioides têm deixado de lado adultos de faixa etária avançada, focando nas quatro ondas da epidemia nos Estados Unidos: prescrição de opioides nos anos 1990, aumento do uso de heroína por volta de 2010, ascensão do fentanil em 2013 e, a partir de 2015, a mistura de fentanil com estimulantes. O novo estudo, utilizando dados do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), mostra que pessoas acima de 65 anos — grupo com maior susceptibilidade a overdoses por múltiplas medicações e metabolismo lento — estão sofrendo impacto semelhante ao dos adultos mais jovens.
Resultados e Metodologia
Pesquisadores da University of Nevada, Reno analisaram 404.964 atestados de óbito entre 1999 e 2023, todos listando o fentanil como causa de morte. Desses, 17.040 eram referentes a idosos e 387.924 a pessoas entre 25 e 64 anos. Os dados mostram que, entre os idosos, as mortes envolvendo fentanil aumentaram de 264 para 4.144 entre 2015 e 2023 (alta de 1.470%). No mesmo período, óbitos relacionados à combinação de fentanil e estimulantes saltaram de 8,7% para 49,9% entre os idosos — um crescimento de 9.000%.
Entre adultos mais jovens, essa proporção subiu de 21,3% para 59,3%, representando aumento de 2.115%. O avanço mais brusco das ocorrências entre idosos foi registrado a partir de 2020, enquanto outros tipos de morte por substâncias permaneceram estáveis ou em declínio. Cocaína e metanfetaminas foram os estimulantes mais encontrados em associação ao fentanil, superando álcool, heroína e benzodiazepínicos como Xanax ou Valium.
“A common misconception is that opioid overdoses primarily affect younger people”
(“É um equívoco comum pensar que overdoses de opioides afetam principalmente os mais jovens.”)— Gab Pasia, estudante de medicina, University of Nevada, Reno School of Medicine
“With these trends in mind, it is more important than ever to minimize opioid use in this vulnerable group and use other pain control methods when appropriate. Proper patient education and regularly reviewing medication lists could help to flatten this terrible trend.”
(“Diante dessas tendências, é mais importante do que nunca minimizar o uso de opioides nesse grupo vulnerável e utilizar outros métodos de controle da dor quando possível. Educação adequada e revisão regular das listas de medicamentos podem ajudar a conter essa tendência terrível.”)— Richard Wang, médico residente, Rush University Medical Center, Chicago
Implicações e Próximos Passos
O estudo sugere que profissionais de saúde, especialmente anestesiologistas e especialistas em dor, precisam ampliar o monitoramento de exposição a múltiplas substâncias em todas as faixas etárias, não só entre os jovens. Entre as recomendações, está a cautela na prescrição de opioides para idosos, priorização de alternativas não opioides, além do envolvimento de cuidadores em estratégias de redução de danos, como a educação sobre naloxona e simplificação das rotinas de medicação.
A pesquisa ressalta a importância de instruir pacientes idosos e seus familiares sobre prevenção de overdose e reconhecer sinais de emergência, pois a complexidade do quadro geralmente envolve múltiplas substâncias. O acompanhamento contínuo dos dados e a adoção de medidas de prevenção agora se tornam fundamentais para enfrentar a crescente crise de fentanil entre idosos.
O avanço dessa quarta onda da epidemia de opioides destaca não apenas a necessidade de atualização constante das práticas médicas, mas também o papel fundamental da educação para pacientes e comunidades. Novos esforços de pesquisa buscam entender fatores subjacentes à vulnerabilidade dos idosos e avaliar a eficácia de políticas de redução de danos voltadas para populações envelhecidas.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)