
Blacksburg, Virgínia — InkDesign News — Pesquisadores do Fralin Biomedical Research Institute, na Virgínia, divulgaram este mês um estudo inovador mostrando que medicamentos frequentemente prescritos para diabetes e obesidade, como Ozempic e Wegovy, podem também reduzir o consumo de álcool e seus efeitos no organismo.
O Contexto da Pesquisa
Nos Estados Unidos, mais da metade da população adulta consome álcool, e cerca de um em cada dez apresenta transtorno por uso de álcool, associado a graves riscos à saúde, como hipertensão, doenças hepáticas e diversos tipos de câncer. O desafio de encontrar alternativas eficazes para reduzir o consumo excessivo motivou o estudo, liderado por Warren Bickel e colegas do Fralin Biomedical Research Institute. Eles buscaram examinar se agonistas do GLP-1, já aprovados para o tratamento de diabetes tipo 2 e emagrecimento, poderiam auxiliar também no controle do uso alcoólico.
Resultados e Metodologia
A pesquisa envolveu vinte adultos com índice de massa corporal igual ou superior a 30, dos quais metade utilizava medicamentos GLP-1, como semaglutida, tirzepatida ou liraglutida. Os participantes foram submetidos a jejum, receberam um lanche padronizado e, em seguida, ingeriram uma bebida alcoólica medida. Os pesquisadores acompanharam variáveis como pressão arterial, pulso, concentração de álcool no hálito e glicemia, solicitando periodicamente relatos sobre o grau de embriaguez percebido.
A principal descoberta foi que os integrantes do grupo medicado apresentaram uma elevação mais lenta da concentração de álcool no sangue, relatando sensação reduzida de embriaguez em comparação ao grupo sem medicação. O fenômeno está relacionado à capacidade dos agonistas GLP-1 de retardar o esvaziamento gástrico, o que desacelera a absorção do álcool pelo organismo.
“Quem consome bebidas alcoólicas sabe que há diferença entre saborear uma taça de vinho e ingerir uma dose de uísque rapidamente. Embora uma dose padrão de cada tenha a mesma quantidade de álcool (0,6 onças), a elevação dos níveis alcoólicos no sangue ocorre mais depressa com a dose, intensificando seus efeitos. Por isso, se os GLP-1s retardam a entrada do álcool na corrente sanguínea, podem diminuir os efeitos do álcool e ajudar as pessoas a consumir menos.”
(“People who drink know there’s a difference between nursing a glass of wine and downing a shot of whiskey. Although a standard serving of each contains the same amount of alcohol (0.6 ounces), a shot causes blood-alcohol levels to rise much faster. That quick spike feels stronger because of how the body absorbs and processes alcohol. So if GLP-1s slow alcohol entering the bloodstream, they could reduce the effects of alcohol and help people drink less.”)— Alex DiFeliceantonio, Professora Assistente e co-diretora interina, Fralin Biomedical Research Institute
Além disso, a equipe observou que os medicamentos com GLP-1 podem atuar por mecanismos diferentes de outros fármacos usados para tratar dependência alcoólica, como a naltrexona e o acamprosato, os quais agem diretamente no sistema nervoso central.
“Outros medicamentos desenvolvidos para ajudar a reduzir o consumo de álcool atuam no sistema nervoso central. Nossos dados preliminares sugerem que os GLP-1s suprimem o consumo através de outro mecanismo.”
(“Other medications designed to help reduce alcohol intake act on the central nervous system. Our preliminary data suggest that GLP-1s suppress intake through a different mechanism.”)— Alex DiFeliceantonio, Professora Assistente e co-diretora interina, Fralin Biomedical Research Institute
Implicações e Próximos Passos
A pesquisa foi concebida a partir de relatos observados em redes sociais, especialmente no Reddit, onde usuários relataram queda no desejo por álcool ao usarem os medicamentos para diabetes e obesidade. O estudo, financiado pelo Fralin Biomedical Research Institute, foi descrito como piloto, mas seus resultados já fundamentam o desenvolvimento de ensaios clínicos maiores e de longo prazo, capazes de confirmar a eficácia dos agonistas GLP-1 como opção terapêutica para quem deseja reduzir o consumo alcoólico.
Para Fatima Quddos, pesquisadora da equipe, o avanço representa uma possibilidade concreta de desenvolvimento de novas abordagens no tratamento do vício em álcool. O legado de Warren Bickel, pioneiro na análise dos efeitos da postergação de recompensas, permanece como inspiração para estratégias inovadoras focadas na saúde pública.
Ao abrir portas para estudos mais amplos e rigorosos, a descoberta sugere caminhos promissores para a aplicação dos GLP-1s no combate ao alcoolismo, antecipando possíveis medidas de integração dos medicamentos à prática clínica, desde que confirmada a eficácia e segurança por estudos futuros.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)