
Palo Alto, Califórnia — InkDesign News — Uma pesquisa conduzida pela Stanford Medicine revelou que crianças pequenas diagnosticadas com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) nos Estados Unidos frequentemente recebem medicação logo após o diagnóstico, contrariando as diretrizes de tratamento recomendadas pela Academia Americana de Pediatria. O estudo, publicado em 29 de agosto no JAMA Network Open, indica lacunas no cuidado dessas crianças entre 4 e 5 anos.
O Contexto da Pesquisa
O TDAH é reconhecido como um transtorno do desenvolvimento que se manifesta por hiperatividade, dificuldade de atenção e comportamento impulsivo. Diretrizes clínicas aconselham que crianças dessa faixa etária e suas famílias experimentem tratamento comportamental durante seis meses antes do uso de medicação. Porém, a análise coordenada por Stanford revelou que muitos pediatras prescrevem medicamentos imediatamente após o diagnóstico.
“We found that many young children are being prescribed medications very soon after their diagnosis of ADHD is documented.”
(“Descobrimos que muitas crianças pequenas estão recebendo medicamentos logo após a documentação do diagnóstico de TDAH.”)— Yair Bannett, Professor Assistente, Stanford Medicine
Estudos mostram que medicamentos estimulantes geram mais efeitos colaterais em crianças abaixo de seis anos, devido à incapacidade do organismo de metabolizar adequadamente essas drogas em idades tão precoces. Nesses casos, há alta probabilidade de insucesso terapêutico, já que muitas famílias optam por interromper o tratamento diante dos efeitos adversos.
Resultados e Metodologia
Os pesquisadores analisaram prontuários eletrônicos de 712.478 crianças entre três e cinco anos, atendidas entre 2016 e 2023 em oito redes pediátricas dos Estados Unidos. Dentre essas, 9.708 receberam diagnóstico de TDAH — cerca de 1,4% da amostra. O dado mais alarmante indicou que 42,2% dessas crianças foram medicadas no primeiro mês após o diagnóstico; somente 14,1% receberam medicamentos após o prazo sugerido de seis meses de terapia comportamental.
O estudo não teve acesso a dados específicos sobre encaminhamentos para terapia comportamental, mas inferiu que a maioria das crianças medicadas cedo não foi tratada conforme as diretrizes. Outro dado revela que apenas 11% das famílias receberam indicação de terapia compatível com as recomendações.
“One important point that always comes up is access to behavioral treatment.”
(“Um ponto importante que sempre surge é a questão do acesso ao tratamento comportamental.”)— Yair Bannett, Professor Assistente, Stanford Medicine
Implicações e Próximos Passos
A gestão adequada do TDAH é fundamental para o desempenho escolar e o desenvolvimento social das crianças. O início precoce de intervenções, em especial as comportamentais, favorece habilidades adaptativas para a vida adulta. Contudo, segundo Bannett, a limitação do acesso à terapia comportamental leva pediatras a optarem pelo uso imediato de medicamentos, justificando que a falta de qualquer tratamento pode ser ainda mais prejudicial.
Recursos online gratuitos ou de baixo custo podem ajudar a suprir a carência de terapeutas e disseminar técnicas de modificação de comportamento. A pesquisa destaca ainda a necessidade de educação continuada dos profissionais de atenção primária.
No futuro, instituições médicas podem buscar alternativas que ampliem o acesso à terapia, incentivando políticas públicas, pesquisa e desenvolvimento de ferramentas digitais. O aprimoramento das estratégias de cuidado poderá contribuir para um tratamento do TDAH mais alinhado às necessidades do público infantil.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)