Universidade do Colorado Boulder — InkDesign News — Uma pesquisa publicada em outubro na revista Conservation Letters revela que golfinhos-comuns fêmeas estão vivendo, em média, sete anos a menos nas águas do Atlântico Norte em comparação com 1997. O estudo, conduzido por cientistas da Universidade do Colorado Boulder, associa a drástica redução de expectativa de vida a ameaças como a captura incidental pela indústria pesqueira na Baía de Biscaya, região crítica para a espécie.
O Contexto da Pesquisa
Os golfinhos-comuns, identificados por sua abundância mundial estimada em cerca de 6 milhões de indivíduos, são considerados essenciais para o equilíbrio de ecossistemas marinhos tropicais e temperados. Um dos principais pontos de concentração desses cetáceos ocorre na Baía de Biscaya, ao largo da costa da França, onde a oferta de alimento atrai grandes populações da espécie. Contudo, a intensificação da atividade pesqueira transforma a região em um dos epicentros europeus de captura acidental, ou bycatch, responsável por milhares de mortes anuais de golfinhos.
“Há uma necessidade urgente de melhor gestão populacional. Caso contrário, há risco de declínio e, em última instância, extinção.”
(“There is an urgent need to manage the population better. Otherwise, there is a risk for decline and, ultimately, extinction.”)— Etienne Rouby, Pesquisador, Instituto de Pesquisa Ártica e Alpina (INSTAAR)
Resultados e Metodologia
O método tradicional de contagem de golfinhos a partir de embarcações ou aeronaves frequentemente mascara tendências populacionais, dada a alta mobilidade da espécie. Para contornar limitações, os pesquisadores examinaram 759 golfinhos que encalharam entre 1997 e 2019 no litoral da Baía de Biscaya, analisando camadas de crescimento nos dentes para estimar a idade dos animais. Os dados apontam queda significativa: a expectativa média de vida das fêmeas caiu de 24 para 17 anos.
A pesquisa ainda destaca diminuição na taxa de natalidade, o que provoca um declínio reprodutivo mais amplo. O crescimento populacional desacelerou 2,4% no período — se as condições fossem ideais, essa taxa poderia alcançar 4% ao ano. Em 2019, ela ficou em apenas 1,6%, valor que tende a ser inferior na prática.
“Queríamos captar mudanças nas taxas de sobrevivência e fertilidade da população. São indicadores mais sensíveis de saúde populacional e permitem identificar problemas antes de se tornarem irreversíveis.”
(“We wanted to capture changes in the population’s survival and fertility rates. These are more sensitive indicators of population health, and they enable us to identify the problems before they become irreversible.”)— Etienne Rouby, Pesquisador, INSTAAR
Como resposta, desde janeiro de 2024, o governo francês implementou uma suspensão anual de um mês na pesca comercial na Baía de Biscaya. Relatórios iniciais indicam benefícios, mas especialistas sugerem ajustar o período da medida aos padrões migratórios dos golfinhos para maior eficácia.
Implicações e Próximos Passos
A redução na longevidade e fertilidade dos golfinhos-comuns não compromete apenas a sobrevivência da espécie, mas ameaça o equilíbrio de todo o ecossistema marinho. Como predadores de topo, sua ausência pode causar explosão de populações de peixes menores, levando à sobreexploração de plâncton e vegetação marinha.
“Os golfinhos desempenham papel fundamental no ecossistema. Sem eles, populações de peixes poderiam se descontrolar, consumindo demais plâncton e vegetação até o colapso do sistema.”
(“Dolphins are the top predators in the Bay of Biscay, and they play a very important role in the ecosystem. Without these predators, fish populations could become out of control, and they would in turn consume too much plankton and vegetation until the system collapses.”)— Etienne Rouby, Pesquisador, INSTAAR
Especialistas ressaltam a urgência de ações informadas e adaptativas, sugerindo ajustes em políticas já existentes, como a harmonização das restrições pesqueiras aos comportamentos migratórios dos cetáceos. Com outras espécies de cetáceos do Atlântico Norte sob pressão similar, os achados podem fundamentar melhorias regulatórias tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, a exemplo da Marine Mammal Protection Act e da Directiva-Quadro da Estratégia Marinha Europeia.
Nos próximos anos, monitoramento contínuo e ajustes baseados em evidências deverão ser cruciais para evitar o agravamento do declínio e proteger funções essenciais dos ecossistemas oceânicos.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)





