
Portland, Oregon — InkDesign News — Novas diretrizes elaboradas pelo American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), publicadas em setembro, reforçam que pessoas grávidas ou lactantes não devem fazer uso de cannabis em nenhuma circunstância durante a gestação ou amamentação. O documento, produzido a partir de evidências científicas recentes, recomenda que profissionais de saúde obstétrica realizem uma triagem sistemática para o uso dessa substância antes, durante e após a gravidez e que orientem pacientes a respeito dos potenciais riscos associados ao consumo.
O Contexto da Pesquisa
O consumo de cannabis por gestantes nos Estados Unidos tem aumentado significativamente nos últimos anos, impulsionado em parte pela percepção de menor risco decorrente de sua legalização em diversos estados. Entre 2002 e 2020, o autodeclarado consumo mais que triplicou entre pessoas grávidas, passando de 1,5% para 5,4% nesse período. Muitos buscam o uso para aliviar sintomas desagradáveis da gravidez, como náuseas e vômitos, ou para lidar com ansiedade e estresse.
A ACOG destaca, porém, que não há uso da cannabis na gestação respaldado por evidências médicas e lista complicações graves à saúde perinatal já documentadas na literatura científica. Diante desse cenário, a entidade recomenda diálogo permanente e acolhedor sobre o tema, sem recorrer a testes biológicos, como análise de urina ou cabelo, que historicamente afetam de modo desproporcional populações minoritárias.
Resultados e Metodologia
As diretrizes atualizadas se baseiam em uma sólida progressão de estudos que ligam o consumo de cannabis ao redor da concepção e durante toda a gravidez a desfechos desfavoráveis, incluindo parto prematuro, baixo peso ao nascer e maior necessidade de internação em unidade de terapia intensiva neonatal. Evidências sugerem ainda riscos aumentados para o desenvolvimento de condições neuropsiquiátricas em crianças, como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Pesquisas revelam que o THC, principal componente psicoativo da cannabis, atravessa a placenta e está presente no leite materno. Já se detecta receptores canabinoides no feto a partir da quinta semana de gestação, período em que muitas vezes a gestante ainda desconhece a gravidez.
“A exposição à cannabis durante a gestação diminui significativamente o fluxo sanguíneo placentário, reduz a oferta de oxigênio ao bebê e provoca alterações semelhantes à insuficiência placentária.”
(“Cannabis exposure during pregnancy significantly decreases placental bloodflow, oxygen availability to the baby and causes changes in the placenta that are similar to placental insufficiency or dysfunction.”)— Dr. Jamie Lo, Professora Associada, Oregon Health and Science University
Especialistas apontam que, assim como ocorre com o álcool, não se conhece uma quantidade segura para consumo de cannabis durante a gravidez.
“Sabemos que há danos comprovados com o uso de álcool na gestação, mas não sabemos o quão vulneráveis as pessoas são, por isso não recomendamos o uso. O mesmo vale para a cannabis.”
(“We know that there’s harm with alcohol use in pregnancy, but we don’t know to what degree people are going to be more or less vulnerable. And so we don’t recommend alcohol use in pregnancy.”)— Dr. Amy Valent, Professora Assistente, Oregon Health and Science University
Implicações e Próximos Passos
Com a divulgação das novas diretrizes, a ACOG também orienta os profissionais para identificarem motivos que levam ao uso da cannabis e proporem alternativas mais seguras, além de fortalecerem a comunicação e o apoio contínuo ao paciente na busca pela cessação.
A organização enfatiza que nenhum produto derivado da cannabis, incluindo o CBD, deve ser utilizado por gestantes ou lactantes devido à ausência de regulamentação rigorosa e ao risco de contaminação cruzada.
“Os pais querem o melhor para seus filhos e muitas vezes utilizam a cannabis por desconhecimento dos riscos.”
(“Parents want the best things for their children, and they’re not trying to do something that might harm their children. … because they just don’t know.”)— Dr. Jamie Lo, Professora Associada, Oregon Health and Science University
A expectativa da comunidade científica é de que o esclarecimento dessas evidências fortaleça a relação médico-paciente e estimule novas discussões de saúde pública em torno do uso de substâncias controladas na gestação.
À medida que mais estudos aprofundam o entendimento dos impactos do canabinoide no desenvolvimento fetal e neonatal, acredita-se que protocolos de acompanhamento e triagem continuem sendo aprimorados, promovendo maior segurança para mães e bebês.
Fonte: (Live Science – Ciência)