
Sevilha — InkDesign News — Uma equipe de cientistas espanhóis e dinamarqueses, após décadas de investigação, conseguiu confirmar em 2025 que o morcego-noturno-maior (Nyctalus lasiopterus) é capaz de capturar, matar e consumir aves de médio porte em pleno voo, sem jamais pousar. O estudo, liderado pelo Estação Biológica de Doñana, foi publicado na revista Nature e lança nova luz sobre hábitos predatórios dessa espécie considerada ameaçada na Europa.
O Contexto da Pesquisa
A suspeita de que o morcego-noturno-maior se alimentava de aves sobrevoando a Europa remonta a 25 anos, quando pesquisadores identificaram penas nas fezes desses animais. Apesar de relatos anedóticos, a metodologia definitiva para confirmar essa dieta predadora, até então controversa, ficou pendente devido à dificuldade de observação direta dos hábitos noturnos e aéreos da espécie.
Carlos Ibáñez, destacando-se nesse campo desde o início de sua carreira, buscou por décadas provar a capacidade predatória desses morcegos diante do ceticismo de parte da comunidade científica, principalmente pelo fato de algumas aves terem massa corporal próxima à dos morcegos-noturno-maior.
“Sabíamos que o morcego-noturno-maior captura e consome insetos em voo, então presumimos que fazia o mesmo com aves — mas precisávamos provar isso.”
(“We knew that the greater noctule catches and eats insects in flight, so we assumed it did the same with birds–but we needed to prove it,”)— Carlos Ibáñez, Pesquisador, Estação Biológica de Doñana
Resultados e Metodologia
A solução foi inovadora: pequenas mochilas biológicas equipadas com sensores de movimentos, altitude, aceleração e microfones registrando chamadas de ecolocalização em tempo real. Dois morcegos selvagens foram monitorados em seu habitat natural na Espanha.
Os dados dos sensores revelaram um padrão de predação consistente. Os morcegos identificam pássaros voadores pelo som, mergulham em direção ao alvo com aceleração triplicada, e somente um deles conseguiu capturar a presa após uma perseguição de quase três minutos. O ataque foi confirmado por 21 chamados de angústia da ave, seguido de 23 minutos de sons de mastigação captados enquanto o morcego permanecia em voo. Restos de asas encontrados no solo corroboraram o ato documentado.
Segundo os cientistas, o morcego provavelmente morde mortalmente sua presa, desmembra-a em pleno voo para reduzir peso e arrasto, e utiliza as membranas entre as pernas para criar uma espécie de bolsa e ingerir a ave durante o voo.
“É fascinante que os morcegos consigam não apenas capturá-los, mas também matá-los e comê-los enquanto voam.”
(“It’s fascinating that bats are not only able to catch them, but also to kill and eat them while flying,”)— Laura Stidsholt, Coautora, Universidade de Aarhus
Implicações e Próximos Passos
Os resultados confirmam a habilidade única do morcego-noturno-maior, um comportamento até então desconhecido em mamíferos voadores de médio porte. Este registro detalhado da interação predador-presa refina o entendimento ecológico das cadeias alimentares aéreas e destaca a complexidade dos comportamentos adaptativos de predadores noturnos.
A pesquisa ressalta ainda mais a necessidade de esforços de conservação diante da ameaça de extinção do morcego-noturno-maior, agravada pelo desmatamento e alterações ambientais. Com a nova evidência, estudiosos planejam aprimorar estratégias de manejo e proteção da espécie, potencializando políticas baseadas em dados comportamentais agora comprovados.
“Embora desperte empatia pela presa, é parte da natureza. Sabíamos que havíamos documentado algo extraordinário.”
(“While it evokes empathy for the prey, it is part of nature. We knew we had documented something extraordinary,”)— Elena Tena, Pesquisadora, Estação Biológica de Doñana
Diante dessa descoberta inédita, especialistas antecipam avanços em métodos de monitoramento remoto de fauna e em práticas de conservação para espécies predadoras ameaçadas. O estudo também suscita perspectivas sobre possíveis adaptações evolutivas de aves frente a novos predadores aéreos.
Fonte: (Popular Science – Ciência)