Microbioma intestinal influencia comportamento e saúde genética
Toronto, Canadá — InkDesign News — Pesquisas recentes em biotecnologia e saúde vêm investigando a influência dos microrganismos intestinais no comportamento, incluindo potenciais mudanças associadas a infecções que podem afetar traços de personalidade e até mesmo impulsos criminosos, ampliando o debate sobre o papel do microbioma na neurociência comportamental.
Contexto científico
O interesse pela relação entre microbioma intestinal e comportamento tem crescido, especialmente a partir de estudos realizados com roedores. Cientistas do McMaster University, em Toronto, Canadá, têm sido pioneiros ao explorar como a alteração da microbiota pode modificar traços comportamentais, utilizando abordagens inovadoras como o transplante fecal.
Estudos clássicos apontam para protozoários como o Toxoplasma gondii, que induz mudanças no comportamento de roedores, como a perda do medo de predadores, sugerindo um mecanismo de manipulação biológica. Pesquisas em humanos ainda são preliminares, mas algumas associam infecções com o parasita a alterações de personalidade, aumento de agressividade e impulsividade, levantando questões sobre implicações legais.
Metodologia e resultados
O estudo de 2013 realizado na McMaster University aplicou transplantes fecais entre duas linhagens distintas de camundongos — uma tímida e outra extrovertida. Essa técnica, que consiste em transferir a microbiota intestinal através de material fecal, resultou em mudanças comportamentais correspondentes: camundongos tímidos tornaram-se mais sociáveis, enquanto os extrovertidos demonstraram comportamentos mais reservados.
“That’s an example of microbiology that we know affects the brain and could potentially affect the legal standpoint of someone who’s being tried for a crime,”
(“Esse é um exemplo de microbiologia que sabemos que afeta o cérebro e potencialmente poderia influenciar o ponto de vista legal de alguém sendo julgado por um crime.”)— Josh Allen-Vercoe, microbiologista, Universidade de Guelph
Embora esses resultados reforcem a hipótese da influência microbiana no comportamento animal, a complexidade do microbioma humano e sua interatividade com fatores ambientais, dieta e convivência social tornam difícil determinar relações causais diretas em humanos.
Implicações clínicas
Os avanços em metabolômica e microbiologia abrem a possibilidade de intervenções terapêuticas baseadas na modulação do microbioma para tratar distúrbios comportamentais relacionados. No entanto, a transição do modelo animal para humanos requer rigorosos estudos clínicos e avaliação regulatória, dada a diversidade individual da microbiota.
“I don’t think you’re going to be able to take someone’s microbiome and say ‘Oh, look—you’ve got bug X, and that means you’re a serial killer,”
(“Eu não acho que será possível analisar o microbioma de alguém e concluir: ‘Olha, você tem o micróbio X, logo é um serial killer’.”)— Josh Allen-Vercoe, microbiologista, Universidade de Guelph
Espera-se que no futuro intervenções microbianas possam ser integradas em programas terapêuticos, complementando tratamentos convencionais e fornecendo uma nova abordagem para disfunções mentais e comportamentais.
O microbioma, embora relativamente estável, é dinâmico e moldado por fatores como dieta, exercício e ambiente, o que implica em desafios para estabelecer correlações específicas e terapias personalizadas.
Este campo de pesquisa continuará a avançar, ampliando a compreensão das interações entre microrganismos, o cérebro e o comportamento, com potenciais desdobramentos para a medicina e o sistema jurídico.
Fonte: (MIT Technology Review – Biotecnologia e Saúde)
