Médicos alertam em estudo para opioide 20x mais potente que fentanil

Nashville — InkDesign News — Pesquisadores do Vanderbilt University Medical Center e da University of Pittsburgh Medical Center publicaram, em 14 de setembro, uma revisão na revista Pain Medicine que alerta para o surgimento dos nitazenes — opioides sintéticos altamente potentes e já presentes no mercado ilegal desde 2019 — como novos protagonistas da crise de overdose nos Estados Unidos.
O Contexto da Pesquisa
Originalmente desenvolvidos na década de 1950, os nitazenes nunca foram aprovados para uso clínico humano ou testados em ensaios médicos, apesar de seu objetivo inicial como potente analgésico. Nos últimos anos, porém, essas substâncias ultrapassaram outros opioides em potência e passaram a figurar em drogas comercializadas de forma clandestina, muitas vezes sem o conhecimento dos próprios usuários. Soma-se a isso a crescente incapacidade de exames toxicológicos convencionais de detectar sua presença nos organismos de vítimas de overdose, o que dificulta diagnósticos eficazes em emergências.
Resultados e Metodologia
Segundo o sistema Tennessee State Unintentional Drug Overdose Reporting System (TN SUDORS), entre 2019 e 2023 foram contabilizadas 92 mortes por overdose envolvendo nitazenes dentre residentes do estado do Tennessee. Em um terço desses casos, o antídoto naloxona foi administrado, porém a necessidade de doses maiores ou mais frequentes é uma preocupação crescente. O estudo destaca, ainda, que todos os episódios fatais estavam relacionados ao consumo conjunto com outras substâncias ilícitas, principalmente fentanil e metanfetamina.
“For patients, especially those with opioid use disorder or those exposed to illicit substances, nitazenes pose a serious and often hidden threat.”
(“Para pacientes, especialmente aqueles com transtorno por uso de opioides ou expostos a substâncias ilícitas, os nitazenes representam uma ameaça grave e frequentemente oculta.”)— Shravani Durbhakula, Professora Associada, Vanderbilt University Medical Center
Além disso, a pesquisa aponta que esses compostos vêm sendo encontrados em formulações diversas — líquidas, em comprimidos e em pó — vendidos frequentemente em redes sociais e misturados a outros opioides ou fármacos falsificados.
Implicações e Próximos Passos
Os autores recomendam ampliar o acesso a fitas de teste inovadoras que detectem nitazenes, além de dispersar naloxona, tratamento para dependência e campanhas educativas entre pacientes de maior risco. Eles enfatizam a necessidade de estudos em humanos para compreender melhor os efeitos, metabolismo, riscos à saúde a longo prazo e estratégias de reversão de overdose.
“Because these drugs may not show up on routine toxicology screens, clinicians could miss a critical piece of the diagnosis during overdose treatment. Patients may also need higher or repeated doses of naloxone to reverse their effects.”
(“Como essas drogas podem não aparecer em exames toxicológicos rotineiros, os clínicos podem perder uma parte crítica do diagnóstico durante o tratamento de overdose. Os pacientes também podem precisar de doses maiores ou repetidas de naloxona para reverter seus efeitos.”)— Shravani Durbhakula, Professora Associada, Vanderbilt University Medical Center
A rápida propagação dos nitazenes ressalta a urgência de ampliar o reconhecimento precoce dessas substâncias e a disseminação de ferramentas de redução de danos.
Especialistas defendem colaboração entre profissionais da saúde, autoridades, polícia e organizações comunitárias para implementar estratégias de prevenção e tratamento em larga escala. Segundo o professor Trent Emerick, da University of Pittsburgh, gerar dados clínicos sobre os nitazenes é crucial para entender seus mecanismos, riscos e abordagens terapêuticas mais eficazes.
O cenário exige ação multissetorial coordenada para conter a escalada desses opioides, promovendo avanços não só científicos, mas também em políticas públicas, vigilância epidemiológica e educação de risco.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)