
Helsinque — InkDesign News — Pesquisadores utilizaram dados da missão Gaia, da Agência Espacial Europeia, para desvendar como colisões e processos físicos determinam o modo de rotação dos asteroides. O estudo, apresentado na EPSC-DPS2025 em Helsinque, lança nova luz sobre propriedades internas desses corpos e pode redefinir estratégias para desviar asteroides potencialmente perigosos.
O Contexto da Pesquisa
Entender como asteroides giram sempre intrigou astrônomos, principalmente pela frequência com que esses corpos exibem movimentos caóticos em vez de rotações regulares. O fenômeno, cuja explicação era até então parcial, adquiriu nova perspectiva com a análise de dados extensivos capturados pela sonda Gaia. O levantamento permitiu investigar as relações entre colisões sofridas, estrutura interna e os efeitos da iluminação solar nos asteroides – fatores fundamentais para prever comportamentos e riscos desses objetos espaciais.
Resultados e Metodologia
A equipe liderada por Wen-Han Zhou, da Universidade de Tóquio, utilizou curvas de luz coletadas pela missão Gaia para mapear a rotação de milhares de asteroides, revelando um padrão inédito: uma “linha divisória” entre dois grupos distintos de rotação ao se comparar o período de rotação com o diâmetro dos objetos.
“Ao combinar o conjunto de dados único da Gaia, modelagem avançada e ferramentas de inteligência artificial, revelamos a física oculta que molda a rotação dos asteroides e abrimos uma nova janela para o interior desses mundos antigos.”
(“By leveraging Gaia’s unique dataset, advanced modelling and A.I. tools, we’ve revealed the hidden physics shaping asteroid rotation, and opened a new window into the interiors of these ancient worlds.”)— Dr. Wen-Han Zhou, Universidade de Tóquio
A pesquisa aponta que, abaixo dessa linha, encontram-se asteroides com rotações lentas e movimento caótico (tumbling), enquanto acima situam-se aqueles com rotação rápida e regular. O modelo desenvolvido demonstra que tal divisão é resultado do equilíbrio entre colisões, que induzem o estado caótico, e o atrito interno, que “suaviza” a rotação ao longo do tempo. Surpreendentemente, o local da linha no diagrama condiz quase perfeitamente com as previsões do modelo computacional.
“Construímos um novo modelo de evolução do giro dos asteroides considerando o cabo de guerra entre dois processos principais: as colisões no Cinturão de Asteroides, que podem colocar os asteroides em tumbling, e o atrito interno, que gradualmente estabiliza a rotação.”
(“We built a new model of asteroid-spin evolution that considers the tug of war between two key processes, namely collisions in the Asteroid Belt that can jolt asteroids into a tumbling state, and internal friction, which gradually smooths their spin back to a stable rotation.”)— Dr. Wen-Han Zhou, Universidade de Tóquio
Além disso, o efeito sutil da luz solar é considerado. Asteroides em tumbling mudam de giro muito lentamente, já que a energia da luz solar, que poderia acelerar a rotação, é dispersa sem direção preferencial devido à sua movimentação caótica.
Implicações e Próximos Passos
Os achados têm repercussão direta sobre estratégias de defesa planetária, já que indicam possíveis diferenças no comportamento dos chamados “rubble piles” – asteroides compostos por agregados de rocha solta – e corpos sólídos em eventuais tentativas de desvio por impacto.
Com avanços em missões de observação como o Legacy Survey of Space and Time (LSST) do Observatório Vera C. Rubin, espera-se expandir a aplicação desse método para milhões de asteroides, refinando o catálogo das estruturas internas desses objetos. A compreensão aprofundada dessas propriedades é essencial para projetos de desvio, como o DART da NASA, adequado à natureza de cada tipo de asteroide.
Com o aprimoramento do mapeamento e da modelagem, cientistas vislumbram que, em breve, a comunidade internacional terá subsídios técnicos para intervenções mais seguras e eficazes quando houver risco de colisão com a Terra. As novas descobertas também ampliam o entendimento sobre a evolução do Sistema Solar e os processos que moldam corpos celestes há bilhões de anos.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)