
Flórida — InkDesign News — Uma pesquisa inédita detalhou o registro de uma píton-burmesa que regurgitou um veado inteiro após uma queda brusca de temperatura na Reserva Nacional Big Cypress, no sul da Flórida, em novembro de 2024. O evento, relatado na revista Ecology and Evolution, destaca os desafios enfrentados por espécies invasoras em ambientes que fogem de sua faixa térmica ideal.
O Contexto da Pesquisa
As pítons-burmesas (Python bivittatus) são reconhecidas como espécie invasora na Flórida desde o final dos anos 1970, mas sua biologia e interações com fauna nativa, como os veados, ainda são pouco compreendidas. De acordo com biólogos do Serviço Nacional de Parques dos EUA, episódios de declínio populacional de veados, alimento fundamental para predadores nativos como a pantera-da-Flórida (Puma concolor coryi), têm preocupado gestores ambientais. Buscando entender a frequência do consumo de veados por pítons e sua capacidade digestiva, pesquisadores monitoraram por um ano a alimentação de grandes fêmeas da espécie, consideradas mais propensas a capturar presas de grande porte.
Resultados e Metodologia
Durante a observação, cientistas detectaram um volumoso alimento no abdome de uma píton, não demonstrando sinais de digestão por vários dias. Após uma noite em que a temperatura caiu a 9,4°C, o animal foi encontrado sem vestígios de alimento, nadando próximo a um veado de 28 kg, expelido quase intacto. O episódio revelou que, devido à ectotermia, baixas temperaturas retardam processos metabólicos, podendo levar a uma rápida decomposição interna das presas e à necessidade de regurgitação.
“Eles a encontraram muito vazia e conseguiram sentir o cheiro de um veado não muito longe, então conectaram os fatos.”
(“They found her very empty, and they were able to smell a deer not far away and put two and two together.”)— Mark Sandfoss, Biólogo, U.S. Geological Survey (USGS)
O estudo indica que a perda de um alimento raro em razão do frio pode impactar negativamente a condição energética das pítons, potencialmente reduzindo sua reprodução, mas também pode estimular a busca ativa por novas presas nativas.
Implicações e Próximos Passos
Os pesquisadores avaliam que compreender o limite térmico para digestão das pítons é fundamental para previsão de sua expansão territorial nos Estados Unidos. O caso fornece pistas sobre como fatores climáticos podem restringir ou facilitar a disseminação de espécies invasoras de grande porte.
“Deer in Big Cypress have been declining for several years, and we believe pythons to be a factor in that.”
— Travis Mangione, Biólogo, National Park Service (NPS)
O episódio integra uma análise anual sobre o padrão alimentar dessas serpentes. Segundo especialistas, compreender os mecanismos fisiológicos e ecológicos de digestão na píton-burmesa poderá embasar estratégias de manejo mais efetivas para mitigar seu impacto ecológico e proteger as espécies nativas.
Com o avanço dos estudos sobre a biologia das pítons, espera-se que futuras diretrizes de conservação possam ser formuladas para conter sua população e promover equilíbrio no ecossistema da Flórida. O acompanhamento científico constante será crucial para mapear novos eventos e ajustar políticas públicas de contenção de invasoras em áreas protegidas.
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Fonte: (Live Science – Ciência)