
Stanford — InkDesign News — Uma pesquisa publicada em junho de 2024 pela equipe de Stanford Medicine sugere que abolir a mudança sazonal dos relógios nos Estados Unidos e adotar o horário padrão permanente pode proporcionar benefícios substanciais à saúde pública. O estudo, divulgado na revista PNAS, apresenta uma análise inédita envolvendo impactos no ritmo circadiano e nos índices nacionais de doenças como obesidade e AVC.
O Contexto da Pesquisa
A mudança bi-anual dos relógios, conhecida como Daylight Saving Time (horário de verão), é tema de amplo debate. O ajuste sazonal é praticado há décadas, com defensores argumentando economias de energia e maior lazer, enquanto críticos apontam efeitos negativos na saúde. Instituições como a American Academy of Sleep Medicine e a American Medical Association manifestam apoio ao horário padrão permanente, mas, segundo os autores do novo estudo, “a teoria de que a luz matinal beneficia a saúde nunca havia sido empiricamente comprovada”.
“Você tem pessoas que são apaixonadas por ambos os lados dessa questão, e elas apresentam argumentos muito diferentes”
(“You have people who are passionate on both sides of this, and they have very different arguments”)— Dr. Jamie Zeitzer, Fisiologista Circadiano, Stanford Medicine
Resultados e Metodologia
Os pesquisadores compararam três políticas: horário padrão permanente, horário de verão permanente e o atual sistema de mudança bi-anual. Modelando exposição à luz e impactos no ritmo circadiano em todo o território dos EUA, verificaram que a constante mudança dos relógios gera a maior perturbação ao relógio biológico humano.
A manutenção no horário padrão apresentou os menores índices de “carga circadiana”, termo que descreve o esforço do organismo para se ajustar ao ciclo de 24 horas. Estimativas apontam que tal política poderia prevenir cerca de 300 mil casos anuais de AVC e reduzir em 2,6 milhões o número de pessoas com obesidade. O horário de verão permanente também traria benefícios, porém cerca de dois terços inferiores, segundo os modelos. Os pesquisadores destacam:
“Descobrimos que permanecer no horário padrão ou no horário de verão é definitivamente melhor do que alternar duas vezes ao ano”
(“We found that staying in standard time or staying in daylight saving time is definitely better than switching twice a year”)— Dr. Jamie Zeitzer, Fisiologista Circadiano, Stanford Medicine
A análise utilizou dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) sobre prevalência de condições de saúde e simulou exposição à luz considerando as diferentes políticas horárias em mais de 3 mil condados.
Implicações e Próximos Passos
Apesar dos dados favorecerem o horário padrão permanente, os autores salientam que fatores comportamentais e geográficos reais podem influenciar a efetividade da política. Questões como hábito de exposição à luz solar e variações regionais precisam ser consideradas em estudos futuros. Ainda assim, a recomendação é que debates sobre políticas horárias incorporem essas evidências científicas, sem ignorar aspectos econômicos e sociais.
Por fim, os pesquisadores lembram que a escolha do horário é, essencialmente, uma convenção: “Nenhuma política tornará os invernos mais claros; isso depende apenas da posição da Terra em relação ao Sol”.
A discussão sobre o fim das mudanças sazonais do relógio deve, agora, avançar para um novo patamar, embasada não só em preferências culturais, mas em dados concretos sobre saúde pública e qualidade de vida.
Fonte: (Popular Science – Ciência)