
Notre Dame — InkDesign News — Um novo estudo conduzido por especialistas da Universidade de Notre Dame e outras instituições revisita um dos momentos mais decisivos da história global: o impacto da possível falha da expedição de Cristóvão Colombo em 1492. A pesquisa analisa hipóteses sobre quem teria “descoberto” as Américas caso Colombo não tivesse alcançado o Caribe, detalhando cenários geopolíticos e linguísticos alternativos.
O Contexto da Pesquisa
Embora Cristóvão Colombo tenha partido em 1492 em busca de uma nova rota para a Ásia, seu maior legado foi ter aberto caminho para a colonização europeia das Américas. Não foi o primeiro europeu a chegar ao continente: cerca de 500 anos antes, vikings haviam tocado terra na Terra Nova, mas sem colonização permanente. Pesquisadores destacam que, se Colombo não tivesse completado sua jornada, a chegada de europeus às Américas seria inevitável, dada a crescente exploração atlântica do final do século XV, motivada pelo interesse em mercadorias como açúcar, ouro africano e escravos.
“Os anos 1480 demonstraram que a exploração no Atlântico era lucrativa, graças a produtos como açúcar, bacalhau, selos, baleias, marfim de morsa e narval, ouro da África Ocidental e escravos islandeses e africanos. Portanto, o desembarque na margem oposta teria acontecido em algum momento.”
(“The 1480s had demonstrated that Atlantic exploration was profitable, thanks to such products as sugar, cod, seals, whales, walrus and narwhal ivory, West African gold, and Icelandic and African slaves. So landfall on the far shore would [have happened] some time.”)— Felipe Fernández-Armesto, Professor de História, Universidade de Notre Dame
Resultados e Metodologia
Ao analisar correspondências e registros de época, a pesquisa mostra que havia disputa acirrada entre as Coroas ibéricas para promover expedições transatlânticas. Segundo o professor emérito Geoffrey Symcox, da UCLA, era provável que Portugal tomasse a dianteira caso a expedição espanhola fracassasse.
“Se a Espanha não tentasse novamente, a viagem seria patrocinada por Portugal. O rei de Portugal estava ciente das intenções espanholas e agiria rapidamente para impedir outros avanços espanhóis.”
(“If Spain didn’t try again, the voyage would have been sponsored by Portugal. The king of Portugal was well aware of Spanish intentions and would have moved fast to pre-empt any further Spanish moves.”)— Geoffrey Symcox, Professor Emérito de História, UCLA
O estudo sugere que, caso um navegador português fosse o pioneiro na travessia, a configuração geopolítica do continente americano poderia ser radicalmente diferente: o Tratado de Tordesilhas dificilmente existiria, o português talvez predominarisse no continente, e conquistadores portugueses substituiriam expoentes espanhóis como Hernán Cortés e Francisco Pizarro nas grandes conquistas do século XVI.
Por outro lado, segundo Fernández-Armesto, a supremacia espanhola poderia se manter devido à posição estratégica das Ilhas Canárias, sob domínio da Espanha:
“A diferença histórica seria pequena e o atraso provavelmente insignificante.”
(“The historical difference would have been slight and the delay probably not significant.”)— Felipe Fernández-Armesto, Professor de História, Universidade de Notre Dame
Implicações e Próximos Passos
Entre as possíveis mudanças culturais, destaca-se o deslocamento de nomes e marcos históricos: regiões e países que hoje levam o nome de Colombo, como Colômbia ou Distrito de Columbia, poderiam homenagear outros navegadores, como os irmãos Pinzón. Linguisticamente, haveria maior presença do português nas Américas.
Especialistas enfatizam, porém, que nenhum cenário teria resultado em contato benigno com as populações indígenas. Epidemias e conquistas devastadoras causariam impactos profundos e duradouros, como de fato ocorreu.
Para os pesquisadores, resta analisar a fundo como pequenas variações históricas influenciam séculos de desenvolvimento global, monitorando como os estudos sobre o tema podem fornecer insights sobre a dinâmica das grandes migrações e contatos transcontinentais.
Conforme acadêmicos apontam, o futuro da pesquisa sobre o tema está na análise multidisciplinar dos fatores geográficos, econômicos e culturais que definiram o destino das Américas, ressaltando o papel fundamental dos povos indígenas, que seguem resistindo e preservando seus saberes.