
Houston, Baylor College of Medicine — InkDesign News — Um novo estudo internacional revela que a metformina, principal fármaco para o tratamento do diabetes tipo 2 há mais de seis décadas, age também por meio de um mecanismo cerebral ainda não reconhecido pela ciência. Pesquisadores identificaram que a droga depende de uma proteína específica no cérebro para exercer seu efeito antidiabético, trazendo perspectivas inexploradas para terapias mais precisas. O trabalho foi publicado recentemente na revista Science Advances.
O Contexto da Pesquisa
Desde sua introdução clínica, a metformina tem sido considerada a escolha de primeira linha para o controle do diabetes tipo 2, baseada principalmente em sua atuação para reduzir a produção de glicose pelo fígado. Estudos adicionais sugeriram também um papel relevante do intestino nesse processo. Entretanto, ainda havia lacunas na compreensão dos mecanismos completos da droga.
“It’s been widely accepted that metformin lowers blood glucose primarily by reducing glucose output in the liver. Other studies have found that it acts through the gut.”
(“É amplamente aceito que a metformina reduz a glicose no sangue principalmente ao diminuir a produção de glicose pelo fígado. Outros estudos descobriram que ela atua através do intestino.”)— Makoto Fukuda, Professor Associado de Pediatria – Nutrição, Baylor College of Medicine
Nesse novo trabalho, a equipe concentrou-se na hipótese de que o cérebro, reconhecido como regulador central do metabolismo da glicose, poderia ter participação determinante na eficácia da metformina.
Resultados e Metodologia
O estudo realizou experimentos em camundongos geneticamente modificados para não possuírem a proteína Rap1 em uma região cerebral específica, o hipotálamo ventromedial (VMH). Os animais foram submetidos a uma dieta rica em gordura para simular o diabetes tipo 2. Nessas condições, a administração de baixas doses de metformina não resultou na esperada redução da glicose sanguínea — efeito que permaneceu intacto para outras drogas, como insulina e agonistas de GLP-1.
Em outra fase, pequenas quantidades de metformina foram injetadas diretamente no cérebro de camundongos diabéticos, provocando uma queda expressiva dos níveis de açúcar no sangue, mesmo com doses milhares de vezes menores que as vias convencionais.
“We also investigated which cells in the VMH were involved in mediating metformin’s effects. We found that SF1 neurons are activated when metformin is introduced into the brain, suggesting they’re directly involved in the drug’s action.”
(“Também investigamos quais células no VMH estariam envolvidas na mediação dos efeitos da metformina. Descobrimos que neurônios SF1 são ativados quando a metformina é introduzida no cérebro, sugerindo que participam diretamente da ação do medicamento.”)— Makoto Fukuda, Professor Associado, Baylor College of Medicine
Análises por eletrofisiologia demonstraram que a ativação desses neurônios pelo medicamento dependia da presença da proteína Rap1, confirmando o papel central deste mecanismo cerebral.
Implicações e Próximos Passos
Os achados promovem uma reformulação no entendimento dos mecanismos de ação da metformina, tradicionalmente associados ao fígado e ao trato intestinal. Revelando que o cérebro responde a concentrações muito menores do medicamento, a pesquisa sugere novas oportunidades para o desenvolvimento de tratamentos direcionados e eficazes.
Até então, poucas terapias para diabetes exploravam caminhos neuronais. Agora, a possibilidade de intervir diretamente sobre a via Rap1 no cérebro pode ampliar o espectro de pacientes que respondem positivamente à metformina e estimular a criação de novas moléculas específicas.
Além das questões relacionadas ao metabolismo, os pesquisadores pretendem examinar se essa mesma via cerebral explica efeitos já conhecidos da metformina sobre o envelhecimento do cérebro e funções cognitivas, como destaca o grupo liderado por Fukuda.
O estudo contou com a colaboração de cientistas da Baylor College of Medicine, Louisiana State University, Nagoya University (Japão) e Meiji University (Japão), sendo financiado por instituições como NIH, USDA, American Heart Association e American Diabetes Association.
O desenvolvimento futuro de medicamentos que atuem sob essa nova perspectiva cerebral pode revolucionar tanto o tratamento do diabetes quanto de outras condições neurometabólicas, ampliando o arsenal terapêutico da medicina moderna.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)