
Berkeley, Califórnia — InkDesign News — Pesquisadores da Universidade da Califórnia, Berkeley, analisaram o consumo rotineiro de álcool por chimpanzés em ambientes naturais de Uganda e Costa do Marfim, propondo relações entre a dieta desses animais e a evolução humana. O estudo, publicado no periódico Science Advances, sugere que a ingestão de etanol proveniente de frutas fermentadas pode ajudar a entender o papel do álcool no comportamento e metabolismo dos hominídeos.
O Contexto da Pesquisa
Ao longo das décadas, evidências vêm indicando que humanos não são totalmente únicos em relação à linguagem ou cognição no reino animal. Descobertas sobre canções de baleias, chamados de bonobos e mesmo capacidades de percepção da ignorância aparentemente demonstradas por primatas questionam o excepcionalismo humano. Nesse cenário, a “hipótese do macaco bêbado” ganha destaque entre cientistas interessados em entender a origem da atração humana pelo álcool, hipotetizando que a exposição ancestral ao etanol em frutas fermentadas teria exercido pressão seletiva sobre a dieta e o sistema digestivo de frugívoros.
Resultados e Metodologia
A equipe mediu a concentração de etanol – um subproduto natural da fermentação de açúcares – em 21 frutas consumidas por chimpanzés em dois locais africanos. Os resultados revelaram concentrações típicas de 0,3% a 0,4% de álcool. Considerando o consumo diário desses animais, que pode chegar a 10% de sua massa corporal em frutas, os primatas ingerem o equivalente a 14 gramas de etanol puro por dia. Quando ajustado para o peso médio de humanos, isso seria similar à ingestão de duas taças de vinho diariamente.
“Poderíamos dizer que os chimpanzés estão consumindo o equivalente, para nós, a duas taças de vinho por dia”
(“we could say the chimpanzees are consuming the equivalent of, to us, two glasses of wine per day”)— Aleksey Maro, Doutorando, Universidade da Califórnia, Berkeley
Os animais, distribuindo o consumo ao longo do dia, não manifestam sinais de intoxicação aparente. Os pesquisadores agora avaliam traços metabólicos do álcool por meio da urina dos chimpanzés.
Implicações e Próximos Passos
A pesquisa reforça a viabilidade da “hipótese do macaco bêbado”, enfatizando que a fermentação de frutas é comum nos trópicos e que preferências alimentares ancestrais, espelhadas nos hábitos dos chimpanzés, podem ter moldado a tolerância ao álcool em humanos. Outros benefícios potenciais do consumo de etanol incluem a identificação a longa distância de fontes calóricas e o desbloqueio de nutrientes durante períodos de escassez alimentar.
“Esses nossos primos ainda vivem um estilo de vida semelhante ao de nossos ancestrais remotos… Então há boas razões para pensar que essa dinâmica ecológica envolvendo álcool e frutas entre chimpanzés atualmente também se aplicava aos nossos ancestrais primeiros.”
(“These cousins of ours are thought to still live a similar lifestyle to our remote ancestors… So there is good reason to think this ecological dynamic involving fruit alcohol among chimpanzees today also applied to our early ancestors.”)— Aleksey Maro, Doutorando, Universidade da Califórnia, Berkeley
A coleta de dados sobre preferências alimentares em chimpanzés selvagens permanece um desafio técnico relevante. Como próximos passos, novas metodologias, como a análise bioquímica do metabolismo do etanol, podem ajudar a confirmar os efeitos desse consumo contínuo de álcool sobre a fisiologia dos primatas.
O campo da primatologia pode esperar avanços com o desenvolvimento de métodos não invasivos para monitorar o metabolismo do álcool, ampliando a compreensão sobre a evolução do consumo de etanol e suas implicações tanto para a saúde dos primatas quanto para o entendimento da trajetória evolutiva humana.
Fonte: (Popular Science – Ciência)