
Boston — InkDesign News — Uma nova pesquisa liderada por especialistas da Universidade de Massachusetts Boston sugere que a ponte de terra de Bering, ligação crucial entre Ásia e Alasca, emergiu muito mais tardiamente durante a última Era do Gelo do que se pensava. O estudo, publicado em setembro na revista Quaternary Science Advances, restringe a janela de tempo para a migração humana para as Américas, alinhando-se com evidências como as pegadas de 23.000 anos encontradas no Novo México.
O Contexto da Pesquisa
A Terra passou por vários ciclos glaciais, durante os quais o nível do mar variou drasticamente, influenciando passagens terrestres entre continentes. Pesquisas anteriores estimavam que a ponte de Bering estivesse exposta a partir de 70.000 anos atrás, baseando-se em cálculos do nível global do mar durante o chamado Último Máximo Glacial (LGM), entre 26.500 e 19.000 anos atrás. Entretanto, fatores locais, como o peso das geleiras próximas ao Estreito de Bering, dificultavam estimativas precisas desse evento geológico.
Como destaca Jesse Farmer, professor assistente na Escola de Meio Ambiente da Universidade de Massachusetts Boston, “não é possível saber o nível do mar com muita precisão naquela época”
(“it’s not possible to know sea levels very precisely from that time”)
— Jesse Farmer, University of Massachusetts Boston
Esse contexto tornou necessário aprimorar os métodos de análise para determinar o período exato de exposição da ponte de Bering.
Resultados e Metodologia
O novo estudo utilizou dados de sedimentos oceânicos e fósseis de animais como mamutes, bisões e ursos para modelar a migração da fauna entre as regiões. As análises apontam que a ponte de terra esteve submersa entre 46.000 e 35.700 anos atrás, emergindo apenas cerca de 10 mil anos antes do ápice do frio glacial. Combinando registros de nutrientes típicos do Oceano Pacífico e do Ártico, os pesquisadores sugerem que o estreito só ficou seco o suficiente para travessias após esse período.
“A emergência tardia daria suporte à ideia de que humanos totalmente modernos foram os primeiros a cruzar para o continente norte-americano.”
(“The late emergence would support the idea that fully modern humans first made the journey onto the North American continent.”)— Ian Buvit, Arqueólogo Independente
Além disso, modelos computacionais indicam que, para migrações anteriores ao intervalo de 40.000 a 35.000 anos, seria necessário o uso de embarcações e habilidades avançadas de navegação, tirando Denisovanos e Neandertais do protagonismo nesta travessia.
Implicações e Próximos Passos
Essas descobertas ajustam a linha do tempo da migração humana para as Américas, sugerindo que apenas humanos modernos, dotados de capacidade para navegação marítima, poderiam ter realizado a travessia dentro do período viável. Os resultados desafiam parte da narrativa aceita sobre a colonização inicial do Novo Mundo, bem como reforçam a necessidade de atualização nos modelos de dispersão populacional e biogeográfica.
“Qualquer migração humana para as Américas antes de 40.000 a 35.000 anos teria exigido embarcações e a habilidade de navegar em mar aberto. Até onde sabemos, isso só foi alcançado por humanos anatomicamente modernos.”
(“Any human migration into the Americas before 40,000 to 35,000 years ago would have required watercraft and the ability to navigate open ocean. As far as we know, this was only achieved by anatomically modern humans.”)— Ian Buvit, Arqueólogo Independente
Com o avanço das técnicas de datação e a análise de depósitos fósseis, pesquisadores esperam refinar ainda mais o entendimento sobre quando e como os primeiros humanos chegaram às Américas. O monitoramento contínuo de áreas-chave para novos achados arqueológicos pode trazer respostas definitivas e transformar paradigmas sobre a ocupação do continente.
Fonte: (Live Science – Ciência)