
Boca Ratón — InkDesign News — Em uma nova pesquisa publicada pelo Charles E. Schmidt College of Medicine, da Florida Atlantic University, cientistas revelam que o consumo elevado de alimentos ultraprocessados (AUPs) está diretamente associado a níveis mais altos de proteína C reativa de alta sensibilidade (hs-CRP) no sangue – um importante marcador de inflamação e preditor de doenças cardiovasculares nos Estados Unidos.
O Contexto da Pesquisa
Por décadas, crescentes evidências têm sugerido a relação entre dietas ricas em AUPs — como refrigerantes, salgadinhos e carnes processadas — e o aumento de doenças crônicas. No cenário americano, cerca de 60% das calorias ingeridas por adultos e 70% por crianças são provenientes desses produtos, que substituíram ingredientes naturais por centenas de aditivos concebidos industrialmente. Estudos anteriores associaram AUPs ao aumento de obesidade, câncer, enfermidades metabólicas e mentais, além de morte precoce, mas dados consistentes sobre a ligação com processos inflamatórios, mensurada por biomarcadores como a hs-CRP, permaneciam limitados.
Resultados e Metodologia
Pesquisadores analisaram dados alimentares e biométricos de 9.254 adultos que participaram da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos EUA. O consumo de AUPs foi avaliado como percentual do total calórico diário e categorizado em quatro faixas: de menos de 20% a 79%. A prevalência de níveis elevados de hs-CRP demonstrou sólida correlação com ingestão de ultraprocessados. Indivíduos no grupo de maior consumo (60%–79% das calorias diárias) registraram probabilidade 11% superior de apresentar inflamação em relação ao grupo de menor consumo; já participantes numa faixa intermediária (40%–59%) tiveram aumento de 14%. A análise levou em conta variáveis como idade, gênero, tabagismo, atividade física e outros indicadores de saúde.
O risco mostrou-se particularmente acentuado entre adultos de 50 a 59 anos (26% de aumento), obesos (80%) e fumantes atuais (17%). Não se verificou variação significativa entre os sedentários quando comparados a indivíduos ativos.
“Esses resultados, baseados em uma ampla amostra representativa dos adultos dos EUA, evidenciam que as pessoas que consomem maiores quantidades de alimentos ultraprocessados apresentam níveis significativamente superiores de proteína C reativa de alta sensibilidade, um marcador-chave da inflamação.”
(“These findings, based on a large and nationally representative sample of U.S. adults, clearly show that people who consume the highest amounts of ultra-processed foods have significantly higher levels of high-sensitivity C-reactive protein, a key marker of inflammation.”)— Allison H. Ferris, professora e diretora, Departamento de Medicina da FAU
Implicações e Próximos Passos
Os autores sugerem que os profissionais da saúde abordem com maior ênfase os riscos dos AUPs e incentivem o consumo de alimentos integrais. Diante de dados que revelam aumento de câncer colorretal entre jovens adultos americanos, a contribuição dos ultraprocessados para doenças gastrointestinais complexifica ainda mais o debate sobre políticas de saúde pública.
“Acreditamos que profissionais da saúde talvez desejem envolver-se mais ativamente com seus pacientes sobre os riscos dos AUPs e os benefícios de aumentar o consumo de alimentos integrais.”
(“We believe that health care professionals may wish to consider actively engaging with their patients about the risks of UPFs and benefits of increasing whole food consumption.”)— Charles H. Hennekens, professor, Schmidt College of Medicine, FAU
A pesquisa coloca em evidência a necessidade de ações articuladas envolvendo autoridades e sistema de saúde, desde melhorias na rotulagem de alimentos e limitação de aditivos a políticas de incentivo à alimentação saudável em escolas e programas públicos. A influência das multinacionais alimentícias sobre práticas e políticas é comparada ao impacto histórico da indústria do tabaco.
As perspectivas indicam que, assim como no caso do cigarro, a conscientização pública e as regulamentações tendem a avançar conforme se acumulam evidências científicas sobre os efeitos adversos dos ultraprocessados. Medidas integradas podem ser essenciais para tornar alimentos saudáveis mais acessíveis e reverter tendências negativas de saúde populacional.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)