
Filadélfia, Universidade da Pensilvânia — InkDesign News — Um experimento de terapia gênica realizado em 17 de setembro de 1999 levou à primeira morte registrada durante um ensaio clínico desse tipo, quando o jovem Jesse Gelsinger, de 18 anos, faleceu devido a complicações imunes graves decorrentes do tratamento experimental para uma doença hereditária rara.
O Contexto da Pesquisa
A terapia gênica era vista, na década de 1990, como uma promessa revolucionária para o tratamento de doenças genéticas graves. Gelsinger era portador de deficiência de ornitina transcarbamilase (OTC), uma condição que afeta cerca de 1 em cada 40.000 recém-nascidos e impede a metabolização adequada da amônia. O adolescente mantinha-se estável através de uma dieta restrita e administração rigorosa de medicamentos, mas decidiu participar voluntariamente de um estudo voltado a corrigir a falha genética dele, na esperança de beneficiar gerações futuras.
Resultados e Metodologia
O tratamento consistiu na infusão de um gene OTC funcional por meio de um adenovírus modificado, direcionado ao fígado de Gelsinger. Inicialmente, ele apresentou sintomas gripais esperados, porém, em menos de 24 horas, desenvolveu icterícia, inflamação sistêmica e falência múltipla de órgãos. A investigação da Food and Drug Administration (FDA) apontou inúmeras deficiências na condução do estudo: Jesse iniciou o ensaio com níveis elevados de amônia e função hepática comprometida, fatos que deveriam contraindicar sua participação. Além disso, não foram divulgados aos voluntários efeitos observados em testes pré-clínicos, incluindo mortes em animais com doses elevadas, e outros efeitos adversos sérios já haviam acometido participantes anteriores.
“We don’t know what the impact of these deviations are,”
(“Não sabemos qual é o impacto dessas irregularidades”)— Kathryn Zoon, então diretora do FDA’s Center for Biologics Evaluation and Research
O conflito de interesses também agravou a situação, já que o pesquisador principal, Dr. James Wilson, possuía participação acionária na empresa responsável pelo tratamento genético.
Implicações e Próximos Passos
A morte de Gelsinger paralisou não apenas o ensaio na Universidade da Pensilvânia, mas também pesquisas similares em todo o país, levando a uma reavaliação rigorosa da ética e transparência em experimentos clínicos, inclusive no processo de consentimento informado. O episódio resultou em processos judiciais, revisões nos protocolos de ensaios clínicos e no fortalecimento das normas regulatórias.
“Gelsinger’s death led to several changes in how gene therapy clinical trials are run and to stronger informed-consent requirements.”
(“A morte de Gelsinger levou a várias mudanças em como ensaios clínicos de terapia gênica são conduzidos e a requisitos mais rigorosos de consentimento informado.”)— Relatório da FDA
Apesar do retrocesso momentâneo — e da estagnação que durou quase uma década —, o campo da terapia gênica ressurgiu com avanços importantes em vetores virais e o advento da tecnologia CRISPR. Desde então, tratamentos inovadores vêm sendo aprovados para diversas doenças raras e genéticas, incluindo imunodeficiências e alguns tipos de cegueira hereditária.
No presente, embora o número de terapias gênicas aprovadas ainda seja limitado e as aplicações para doenças complexas estejam em desenvolvimento, o episódio estabeleceu um novo marco ético e metodológico para a pesquisa biomédica. Cientistas destacam que, aprendendo com erros do passado, o campo se fortalece, com benefícios já comprovados e perspectivas de novas conquistas em futuros ensaios que busquem equilíbrio entre inovação e segurança dos participantes.
Fonte: (Live Science – Ciência)