
Tóquio — InkDesign News — Uma equipe liderada por Ko Mochizuki, da Universidade de Tóquio, revelou em pesquisa publicada na revista Current Biology que a espécie Vincetoxicum nakaianum, endêmica do Japão e recém-descrita, utiliza a mimetização do odor de formigas atacadas por aranhas para atrair moscas polinizadoras. O estudo destaca a diversidade inédita dos mecanismos de mimetismo floral.
O Contexto da Pesquisa
Nas últimas décadas, o entendimento sobre mimetismo floral concentrou-se em flores que imitam cheiros de carne em decomposição ou de produtos fermentados, como forma de enganar polinizadores. Contudo, apesar de formigas serem onipresentes e o mimetismo de formigas ter evoluído em diversos invertebrados, nunca havia sido relatado que plantas imitassem formigas para atrair outros organismos. O estudo de Mochizuki surge ao observar moscas do grupo Cloropidae ao redor da Vincetoxicum nakaianum no Jardim Botânico Koishikawa, o que despertou a hipótese de que estas flores reproduziam o cheiro de formigas feridas.
Resultados e Metodologia
A pesquisa partiu de observações fortuitas e de uma sólida bagagem de experiências do pesquisador, incluindo identificação prévia de moscas polinizadoras em treinamentos intensivos. Mochizuki realizou comparações entre odores exalados pelas flores e por insetos de diversas espécies, identificando correspondência mais próxima ao odor de formigas atacadas por aranhas. Para sustentar a hipótese, recorreu ainda a registros de naturalistas amadores em redes sociais, identificando a atração de moscas cleptoparasíticas por formigas feridas.
“Aquele momento em que vi as moscas nas flores foi verdadeiramente inspirador, uma hipótese tomando forma de repente. Esta experiência me ensinou que descobertas inesperadas frequentemente emergem de uma combinação de preparação e acaso.”
(“That moment, when I saw the flies on the flowers, was truly one of inspiration, a hypothesis suddenly taking shape. This experience taught me that unexpected discoveries often emerge from a combination of preparation and chance.”)— Ko Mochizuki, Pesquisador, Universidade de Tóquio
Testes comportamentais subsequentes confirmaram que as moscas eram atraídas significativamente pelo odor de formigas atacadas, em detrimento de outros aromas. Trata-se do primeiro registro de mimetismo olfativo de formigas por plantas no reino vegetal.
Implicações e Próximos Passos
A descoberta amplia o conceito de mimetismo floral e sugere que outros mecanismos ainda não detectados podem existir na natureza.
“Gostaria de investigar o histórico evolutivo do mimetismo de formigas comparando sistemas de polinização, história evolutiva e genética de Vincetoxicum nakaianum e seus parentes próximos. Pretendo ainda explorar outras espécies, tanto no próprio gênero Vincetoxicum quanto em grupos de plantas não relacionados, para revelar exemplos adicionais de possíveis mimetismos.”
(“I would like to investigate the evolutionary background of ant mimicry by comparing the pollination systems, evolutionary history, and genetic makeup of Vincetoxicum nakaianum and its close relatives. In addition, since this study suggests that many forms of floral mimicry may remain hidden, I plan to explore other species, both within Vincetoxicum and in unrelated plant groups, to uncover further examples of potential mimicry.”)— Ko Mochizuki, Pesquisador, Universidade de Tóquio
O estudo abre caminho para investigações que avaliem a frequência e a diversidade de mimetismos sensoriais em plantas e propõe novas abordagens para a compreensão dos ecossistemas e das interações planta-inseto.
No horizonte científico, a identificação desta estratégia ecológica por Vincetoxicum nakaianum estimula buscas por outros exemplos similares e reforça a importância da observação detalhada e interdisciplinar no avanço da botânica evolutiva.
Fonte: (ScienceDaily – Ciência)